terça-feira, 2 de outubro de 2018

LOSO - Quarto de Despejo



Este post que escrevo agora deveria ter sido publicado em setembro, como uma forma de fazer parte da campanha do setembro amarelo. O que aconteceu foi que eu não consegui escrever o que eu queria, da forma como eu queria ou imaginava que queria. Pretendo fazer um post com um balanço do LOSO,  enquanto ferramenta para análise de textos. Ele é um bom guia para ser produtivo, mas senti que meus textos estavam ficando superficiais demais. 




Esse é o primeiro texto na categoria não ficção que será analisado.  Quarto de Despejo foi lançado em 1960. Trata-se de uma mistura de diário com autobiografia, escrito por Carolina Maria de Jesus, uma mulher, negra, mineira da cidade de Sacramento, moradora da favela do Canindé em São Paulo. Mãe solteira de três crianças, catadora de lixo. 

O traço mais marcante do texto, é a combinação entre a inadequação à norma culta da língua portuguesa (compreensível uma vez que considera-se a baixa escolaridade da autora, que frequentou a escola somente até o segundo ano do ensino primário) e a adequação do conteúdo ao momento social e político dos moradores da favela e da cidade de São Paulo . 

Carolina compõe um texto que pode ser lido de muitas formas: a preocupação da mãe com a subsistência dos filhos, a preocupação da cidadã com o futuro político do país, a olhar da vizinha Carolina sobre o cotidiano da favela. Fome, política, futebol, o amor aos livros, a rotina de dona de casa na favela, tudo isso passa como fios narrativos de uma existência que poucos imaginariam tão rica e diversa.

Em tempos onde o preconceito tem descaradamente dado as caras, onde conclamamos a todos que se escondiam para saírem do armário e agora imploramos em orações e hashtags que fascistas, xenófobos e preconceituosos de qualquer natureza sejam abduzidos de nosso cotidiano ou voltem para o armário que lhes cabe, penso que Quarto de Despejo seja um livro para sensibilizar e humanizar o outro e a nós mesmos. Carolina merece ser lembrada com lugar de destaque por sua coragem e resiliência, mas quem se dispuser a ter simpatia pelo humano Carolina e não pelo quase-mito Carolina encontrará uma pessoa que lhe fará compreender que um rótulo não nos define, e que também um rótulo não pode definir o outro, ou corremos o risco de nos tornar quem nós criticamos, corremos o risco de ser os algozes de nossos algozes... 

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Aleatórios 11 - Notas sobre - As meninas, Lygia Fagundes Telles


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

A leitura na qual tenho me empenhado nesse mês é do livro As meninas, da escritora Lygia Fagundes Telles. A obra é a escolha do mês do projeto As Bastardas (http://asbastardas.blogspot.com.br/) com propósito de subsidiar as discussões no mês de abril. Aqui estão reunidos meus primeiros apontamentos sobre a obra:

01 - Pequeno resumo: a obra trata da vida de três moças que moram em um convento, em regime de pensionato. São três personagens com personalidades distintas, bem como as suas histórias de vida.

02 - O ritmo da narrativa é um pouco complicado de acompanhar, pois é narrado com alternâncias dos pontos de vista de cada uma das protagonistas, mudando de uma para a outra de forma abrupta no inicio do livro (se não é isso me desculpem e me avisem: terei de ler o inicio de novo). As partes da narrativa que cabem à Ana Clara são, na minha opinião, as mais complicadas para ler.

03 - A proposta da leitura do projeto/blog é discutir literatura feminista, estou no meio do livro e começo a me questionar sobre os pontos que mais claramente revelam atos/ações que levem a alguma discussão sobre o tema.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Aleatórios 10 - As vinhas da ira - John Steinbeck


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

O que dizer de um livro que fala com simplicidade e beleza sobre um dos maiores dramas que uma família pode passar: a fome. E além da fome, perder sua casa. E não apenas isso, Steinbeck consegue fazer um livro sobre cultura, relações pessoais, relações familiares, prisão, economia, situação dos trabalhadores do campo.

Mesmo um tempo depois de ler este livro, fazendo a retrospectiva das minhas leituras no ano de 2015,  até agora não me saem da cabeça todas as aflições da família Joad.

Migrantes, desde sua saída do Oklahoma até sua chegada na Califórnia, os Joad tem sua narrativa de viagem impregnada de uma transformação social, abordada desde a mudança na relação marido/mulher, que, por consequência, irá afetar o destino da família (aliás, encontramos nessa relação algum ponto de ameaça de violência doméstica como se isso fosse natural)...tão triste, tão humano.

As crianças que passam fome, e em meio a isso ainda conseguem abstrair a dor de um estômago vazio e se refugiar em fantasias de criança.

A situação daqueles que não conseguem se ajustar à própria família. O Pastor, que perdeu a fé em Deus. Todos eles ali, em um caminhão velho, em busca de uma vida, que, esperam eles, será melhor.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Aleatórios 9 - Charlotte Bronte - O segredo e Lili Hart


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

Acabo de finalizar a leitura de dois contos da Charlotte Bronte, chamados O Segredo & Lili Hart. Este é o meu segundo contato com a obra da autora, sendo que o primeiro se deu por meio do filme Jane Eyre, e apesar de possuir o título de Jane Eyre na minha lista de leitura, optei por começar por estes dois contos buscando, na medida do possível entender o processo criativo da autora.
 A edição escolhida é um exemplar publicado pela Editora Nova Fronteira no ano de 1993, com tradução de Maria Ignez Duque Estrada.  A edição original foi transcrita dos manuscritos originais de Charlotte por William Holtz. O exemplar conta ainda com prefácio, posfácio e notas, todos de importância, e sem dúvida o posfácio é de grande ajuda para compreender como se deu a composição das histórias do Reino de Vidro e de seus personagens.
Segundo diz William, a história e criação do reino acontecem quando o pai de Charlotte presenteia seu filho Brandwell com 12 soldadinhos de madeira. As crianças Bronte, encantadas com o presente, “adotam” os soldadinhos e lhes dão nomes, e criam para eles histórias, cuidadosamente escritas em manuscritos de folhas dobradas para parecerem livros.  Realmente as crianças Bronte tinham uma imaginação além da conta, e um afinco para fazer render essa imaginação que também não me parece ser comum aos pequenos nessa idade.
Desenvolvem-se então diversos contos sobre o reino em questão, e como teriam vivido aqueles soldadinhos, quais as relações entre eles até entre seus descendentes.  Confesso que só no final de Lili Hart eu percebi que um dos personagens era o mesmo personagem que estava no conto O Segredo.
Conforme informa o prefácio, os dois textos foram extraídos de um mesmo manuscrito, e O Segredo começa na página 3 do referido, enquanto Lili Hart começa na metade da página 11. Não entendi realmente o  motivo pelo qual Charlotte colocou  Lili Hart em segundo quando, pela ordem cronológica dos acontecimentos do reino, a história de nome Lili Hart acontece muito antes de acontecer os fatos ocorridos em O Segredo. Talvez, e tomo isso realmente como talvez, ela tenha começado a passar a limpo a história O Segredo, e percebeu que sobrariam folhas, então, visando economizar papel, passou a limpo outra história de outro lugar. Mas isso são apenas conjecturas de alguém que aprende agora a lidar com a narrativa de uma clássica escritora britânica e toda a sua genialidade.


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Aleatórios 8 - Emily Bronte - O morro dos ventos uivantes.


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

Notas sobre a leitura de O Morro dos Ventos Uivantes.
1- Tendo sido o primeiro livro que leio desde que terminei a leitura da obra de Jane Austen, o clássico livro de Emily Bronte foi desafiador, não tanto pela escrita da autora, mas pela forma como passamos pelos acontecimentos na vida dos personagens.
2- Enquanto nos livros de Jane Austen podemos observar personagens com qualidades e com defeitos de diversos tipos, na sua narrativa sempre tempos a perspectiva de que os personagens dotados de qualidades sempre tem um final e um desenrolar da história menos dado às paixões. Enquanto os personagens de E. B. são o retrato do oposto: vemos uma família onde a indulgência com o comportamento das crianças e a falta de limites criados entre eles levam a família a uma terrível degradação moral, a qual se sucede também uma degradação física. A única personagem sensata encontrada no livro todo, é Nelly Dean. Dos outros, não podemos ver nada além de vaidades.
3- No aspecto de descrição dos cenários, mesmo os que relatam a primavera e alguns dias de sol, parecem frios, e é quase possível sentir o vento gelado e a umidade por nossos corpos, as palavras de E. B. são quase sinestésicas.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

LOSO - A redoma de vidro

[Para saber mais sobre a LOSO, clique aqui]






Esta é uma leitura retrospectiva. O livro foi lido lá pelos idos de 2016. Ele me acompanhou em viagem ao Rio de Janeiro quando participei do curso de formação em Biblioterapia da Cristiana Seixas. Naquela época, o enfoque dos textos do blog era outro, eu ainda estava em busca de um método de leitura e não conhecia ainda o livro da Nice Menezes de Figueiredo que me salvou nesse ponto. Em um post relatando as minhas férias daquela época, eu disse que comentaria a leitura de Quarto, da Emma Donoghue e de A redoma de vidro, da Sylvia Plath. 

A resenha sobre Quarto saiu em janeiro de 2017 e foi o último post daquela temporada. A culpa eu coloquei sobre o livro de Sylvia. Eu tentei, naquela época, de todas as formas que imaginei possíveis, compreender e falar sobre A redoma de vidro. Tudo parecia insuficiente, e depois de escrito, a releitura me deixava sempre com dúvidas: estaria eu sendo injusta com a obra e a autora?

O fato é que depois do contato com essa obra, eu e o blog entramos em um momento sabático. E agora que estamos retornando, acredito que nada mais justo que falar sobre ela para inaugurar mais uma rodada de posts sobre o Setembro Amarelo.

Mas vamos à história de Esther, a personagem principal de A Redoma de Vidro, que narra sua jornada de adoecimento a partir do momento em que vence um concurso e consegue o "emprego dos sonhos" para uma garota nos Estados Unidos da década de 60.

O assunto principal são as memórias de Esther, narradas por ela mesma em primeira pessoa. Logo, as memórias tratam do seu adoecimento, e podemos dizer  que são vários os assuntos abordados: depressão, suicídio, luto, relação mãe e filha, saudades do pai, relacionamentos com namorados, as expectativas para a vida de uma mulher naquela época...

A narrativa é realista e pode ser lida sem grandes esforços pelo leitor comum. A metáfora da redoma de vidro para descrever o estado da mente da pessoa depressiva é talvez uma das mais belas e eficientes de todas aquelas que eu já encontrei. Para o quesito de compreensão da natureza humana, algo que a biblioterapia pode e deve tratar, eu recomendaria este livro a pessoas que convivem diariamente com alguém depressivo mas que  não conseguem compreender o que se passa com aquele alguém.  

O livro pode ser encarado de forma provocadora de pensamentos, sensibilizando as pessoas que não conseguem compreender o adoecimento da mente e despertando empatia por outros que passam por esse problema. É uma leitura sensibilizante, porém tenho minhas reservas para dizer que pode ser uma leitura de fruição e eu imagino que quem quer trabalhar com essa obra deva considerar o estado que se encontra o leitor, pois ao invés de aproveitar a leitura, ele pode se sentir até mesmo penalizado por ela.

Alguns sintomas da depressão são expressos por Sylvia de uma forma muito leve e bonita, como na passagem abaixo, em que a personagem Esther narra o conflito interno de se perceber incapaz de conseguir manter o ritmo de vida que tinha imposto a si mesma por um longo período de tempo. 

"...eu estava me sentindo bem deprimida. Tinha sido desmascarada naquela manhã pela própria Jota Cê e agora sentia que todas as suspeitas desconfortáveis que eu sempre tivera a respeito de mim mesma estavam virando realidade, e eu não conseguiria esconder a verdade por muito mais tempo. Depois de dezenove anos lutando por boas notas, prêmios e bolsas, eu estava me deixando vencer, diminuindo o ritmo, caindo fora da corrida" (p. 36)

Ou logo adiante, ainda no mesmo capítulo, quando descreve o sentimento de impotência que faz com que a pessoa que sofre de depressão não consiga ter energia, nem sentir qualquer tipo de ânimo para fazer nada:

 "... fiquei me perguntando por que eu não conseguia mais cumprir as minhas obrigações até o fim. Isso me deixou triste e cansada. Então eu me perguntei por que eu também não conseguia deixar de cumprir minhas obrigações até o fim, do jeito que  Doreen fazia, e isso me deixou mais triste e cansada ainda" (p. 37)


Uma passagem que eu achei particularmente encantadora, Esther ganha de presente um livro. Arrisco-me a dizer, que a personagem sentiu uma possibilidade de fuga, um alívio, por um momento, dos sentimentos que a depressão provoca. Parece-me a biblioterapia dentro de um livro para biblioterapia. 

"Achei a história adorável, principalmente a parte que descrevia a figueira cheia de neve durante o inverno, e depois, na primavera, cheia de frutas verdes. Foi triste chegar à página final. Eu queria me enfiar entre aquelas linhas impressas do jeito que a gente atravessa uma cerca e ir dormir debaixo daquela linda e imensa figueira" (p. 64)

Quanto descanso podemos encontrar nas linhas de um livro? Como ele pode nos tocar de forma tão profunda, e nos mobilizar mesmo que seja para a fuga. Alguns dirão que o sentimento de fuga é prejudicial, mas percebam: Esther queria fugir da doença para a vida. Há algo de absolutamente encantador na figura das árvores. Elas criam raízes profundas, se alimentam de água e terra e dão de comer a bichos, homens e pássaros. Seus galhos oferecem sombra aos caminhantes, e também abrigo aos pássaros para que construam seus ninhos. Esther queria fugir para aquele livro, mas sobretudo, parece-me que ela queria fugir para um estado de vida mais saudável e conectado com seus próprios ritmos interiores.    


sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Aleatórios 7 - No exílio - Elisa Lispector


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

   
Fonte: http://seuhistory.com/etiquetas/elisa-lispector
    Ninguém duvida que, em algumas famílias, a relação com as letras e as artes propiciam o surgimento de grandes artistas crescendo juntos, a uma só época. Na minha lista de autores prediletos, as irmãs Bronte sempre tiveram uma posição de destaque, entretanto, apenas recentemente tive contato com uma novidade. É conhecido de todos que sou bibliotecária, e, às vezes, coisas acontecem quando bibliotecários estão a remexer nos catálogos de literatura em língua portuguesa. Com toda a lucidez a respeito de minha ignorância, confesso ter conhecido a menos de dois meses o nome de Elisa Lispector, irmã de Clarice. Tão logo me conscientizei da existência de tal escritora, tratei de sanar meus débitos e, mesmo não sendo assim a maior fã do mundo da Lispector mais famosa, solicitei o empréstimo deste livrinho que, devorado numa tarde de sábado, me fez ler paralelos com Rachel de Queiroz, e não com Clarice, como seria de se esperar.
       Elisa nasceu em 24 de junho de 1911, na cidade de Savran, Ucrânia e migrou para o Brasil ainda menina, com a família, fugindo da perseguição aos judeus após a Revolução Russa de 1917. Faleceu no Rio de Janeiro, em 06 de janeiro de 1989.
        Em suas poucas páginas, Elisa narra, por meio das memórias da personagem Lizza, o percurso feito para fugir da Ucrânia e chegar até o Brasil. Não creio se tratar de uma obra biográfica, mas certamente o que foi vivido pela menina Elisa na fuga serviu de material para a elaboração das histórias narradas pela menina Lizza.

    Por meio da trajetória da garota, podemos perceber como alternam-se vários sentimentos, alguns deles muito amedrontadores, como por exemplo a fome, o frio, o medo de perder-se dos pais, ou de perder uma irmã. É ainda pelo amadurecimento da personagem que vamos notando toda a perda de sua inocência, não no sentido romântico e amoroso, mas sim no sentido das relações sociais.
     Um exemplo disso se dá quando, chegando ao Brasil, são recebidos e instalados pela Tia de Lizza, e nas relações entre Lizza e a Tia, percebemos que a garota deixa de se iludir sobre muitas coisas e vai tomando corpo sobre os dramas da vida. Lizza cuida da casa enquanto a mãe encontra-se enferma no hospital, e esse cuidado a afasta da escola, local que frequentou poucas vezes, mas que o choque cultural, das outras crianças com ela, fez com que fosse um lugar horrível. Mas também é muito bonito ver como tudo isso foi, de alguma forma, uma escada para que essa família pudesse se reconstruir no Brasil, essa terra de esperança para os que vem de fora, enquanto nós mesmos, brasileiros, parecemos perder essa mesma esperança e essa mesma fé.
      Prosseguindo, como todo assunto bom se emenda no outro, como quando estamos conversando com um amigo e a conversa toma rumos que não percebemos, mas vamos embalados e quando percebemos o tempo passou, assim foi quando estava escrevendo esse post e me recordei que, recentemente, o Prof. Lênio Streck, da Unisinos, que coordena os debates do programa Direito e Literatura,  colocou em discussão o tema do Estrangeiro. Fiquei pensando se esse livro não se encaixa em todos os pontos levantados pelo professor e seus convidados. A narrativa de Lizza é um compilado de agressões aos Direitos Humanos, aos Direitos Fundamentais, ao Direito dos Refugiados. Uma ofensa ainda à liberdade de credo, entre outros. Para quem não conhece o programa, deixo aqui o link para o youtube, da parte 1 do programa, se gostarem, é possível ver o restante pelo canal da TV e Rádio Unisinos.  Deixo aqui meu tributo a esse programa, quem sabe um dia ele alcance outros que não apenas os interessados na área jurídica, mas um público mais amplo, por que a qualidade dos debates é ímpar! Vida longa!







terça-feira, 28 de agosto de 2018

LOSO - Não me abandone jamais

[Para saber mais sobre a LOSO, clique aqui]

Uma distopia, uma ficção científica. Um livro enraizado na alma humana que vai levar o leitor a questionamentos sobre ética e o propósito na vida.

Não me abandone jamais, do autor japonês Kazuo Ishiguro, foi lançado em 2005 e ganhou adaptação para o cinema em 2010. A história é contada em primeira pessoa por Kathy, uma garota que vive em uma escola-internato. Não ouvimos menções a pais, a férias, a viagens e a nada que se passe fora da escola. Isso tem um motivo, mas creio que é melhor ler para saber...

O enredo é um pouco difícil para compreender, e isso é intencional. Kazuo narra a história sem explicar para o leitor quais são as regras do mundo em que os personagens estão. Este estilo de narração obriga o leitor a formular hipóteses sobre o que pode estar acontecendo naquele universo.

Apesar da narrativa em distopia, as personagens que permeiam esse universo possuem dramas extremamente comuns, e será interessante reconhecer comportamentos e analisar a reação da narradora a todos eles. 

Pense em uma grande amizade que começa no jardim de infância com todas as suas brincadeiras, e no quanto se tornam diferentes as duas pessoas que eram amigas. Ciúmes, mentiras, inveja e intrigas são entrelaçadas com um profundo sentimento de apego e afeto. Diante da impossibilidade de ir embora, perdoar parece sempre a opção mais conciliadora. Mas e quando você chegou àquele ponto onde outros afetos estão em jogo: perdoar? lutar pelo que deseja? Ir embora?

O livro é estimulante, podendo ser trabalhado em uma diversidade de grupos de leitura, seja para debater sobre a ética na pesquisa científica ou sobre como começamos e terminamos relacionamentos, sejam de amizade ou amor. Também é possível encontrar um tema muito interessante na discussão sobre o papel da arte na vida das pessoas.

Para aplicadores de biblioterapia que trabalham com grupos, eu sugiro prestar muita atenção a todo o potencial na discussão sobre os possíveis: Quantos diálogos podemos fazer com a nossa vida e aquilo que é possível nos tornarmos. O que nos diferencia e nos individualiza? Um código genético ou um código cultural que vamos incorporando à medida que crescemos e nos individualizamos, aprendendo a tomar decisões sobre grandes questões e outras nem tanto mas que impactarão diretamente em quem nós somos, e em desejamos ser, e em quem nos tornaremos no futuro.

A narração é muito bem construída e em vários momentos recordei as mesmas fases da vida que a personagem narra, e a linguagem pode ser claramente compreendida pelo leitor comum. Quem entre nós não tinha uma música preferida na adolescência, ou mesmo na infância? Mesmo que você não compreendesse nada do que estava sendo cantado ali, e talvez mesmo que hoje a música não diga nada à sua realidade, escuta-la ainda trás algum acalento ao coração, um sossego na alma causado pela evocação de uma lembrança querida. Com Kathy também foi assim, e a faixa Never let me go embalou sua juventude em Hailsham, e emprestou seu título ao livro.






sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Aleatórios 6 - O último dia de um condenado - Victor Hugo


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]
"Como no dia da partida dos forçados, caía uma chuva própria da estação, uma chuva miúda e gelada que cai ainda à hora em que escrevo, que cairá por certo durante todo o dia, que durará mais que eu" Victor Hugo, O último dia de um condenado.

       Minha primeira leitura de Victor Hugo, escolhi um livro pequenino, por medo do autor, eu confesso. Como se eu tivesse vergonha de não ter lido tantos clássicos assim para poder encarar Os Miseráveis de uma vez. Os trabalhadores do mar eu quero ler depois. Ainda não comprei Notre Dame de Paris (O Corcunda de Notre Dame). Sim, pretendo ler na ordem (o que não estou fazendo com Tolstói).
      Acompanhamos o último dia da vida de um homem que foi condenado a morte e Victor Hugo nos deixa perceber toda a angústia da alma de um homem que sabe o dia e a hora de sua morte. É penoso pensar que nos colocaram uma data de validade, que estamos para ser destruídos e que tudo de nós será apagado. Um momento delicado: quando a filha do prisioneiro é levada para se despedir do pai, notamos que já estão operando um apagamento da memória do pai na filha, para ela, ele já está morto e a prisão desfigurou-o tanto como pessoa (a barba que cresce, o rosto abatido). A filha não o reconhece.
     Uma obra linda, escrita de forma envolvente. Fico aqui pensando, se eu já não concordava com a pena de morte, após a leitura deste livro, estou convencida de que não é uma boa opção. Que direito temos nós de saber sobre o futuro, sobre a circunstância, sobre o homem, para condená-lo a morrer, apagar sua existência?



terça-feira, 21 de agosto de 2018

A princesa salva a si mesma neste livro





Amanda Lovelace, autora americana que começou divulgando seu trabalho em ferramentas como Twiter, Tumblr e Instagran, publica um livro de poesia intimista e de batalha pessoal.  Destaco dois temas abordados pela autora, que se ligam intimamente e que permeiam toda a obra: o relacionamento com a mãe e a interpretação que a autora faz de seu corpo e seu peso.  Desses dois temas, trabalharei/elegi apenas um, o da mãe, pois é a primeira vez que escrevo sobre um poema e não estou certa sobre como devo fazer isso.

Na página 30, encontramos o seguinte:

 agora que
penso sobre isso,
ela sempre
fez questão
de que eu a visse
arrancando
o balão
da minha mão
e
deixando-o
  voar para longe 


No poema acima podemos perceber uma lembrança que a autora cultiva da mãe, que, longe de ser doce, parece-me uma lembrança cheia de incompreensão. Uma mãe que arranca o brinquedo da criança e faz questão de mostrar à criança o brinquedo ir embora. 


Quando leio essas poesias sobre as batalhas intimas de cada um, não consigo deixar de pensar que aqueles que causam mágoas nos que foram magoados sempre tem uma razão para tal, algumas talvez seja uma forma de tentar dizer algo que não se consegue verbalizar em palavras. Um balão colorido, bonito, que te traz alegria, arrancado de você e você impotente, vendo-o ir embora. Por mais que isso parece crueldade, que lição isso pode ensinar? Talvez, que por mais estáveis e belas que sejam certas verdades em nossas vidas, elas também são passageiras, e que muitas vezes cabe a nós somente chorar pela perda, para depois conseguir um outro balão, e chorar pela perda dele também. Que aprendizado essa experiência trouxe à alma da adulta: apenas mágoa ou alguma forma de resiliência, aprendendo que sempre haverá outro balão e que este também poderá voar?

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Aleatórios 5 - Vozes de Tchernóbil, de Svetlana Aleksiévitch


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

Bombas assustam. A guerra é aterrorizante. Hiroshima e Nagazaki estão ainda frescas em nosso imaginário coletivo para que não nos esqueçamos do horror da guerra. Mas há algo ainda mais aterrorizante que uma guerra, a meu ver. E é sobre isso que o livro resenhado hoje trata.

Recentemente, no Brasil, tivemos o caso do rompimento de uma represa de rejeitos na cidade de Mariana, interior de Minas Gerais. Na história recente do país, esse foi o primeiro evento que provocou em mim uma intensa necessidade de pensar sobre os procedimentos adotados para a evacuação de locais em casos de catástrofes, sobre as agências de regulação e fiscalização, sobre contenção de custos e maximização de lucros.


Como explicar, portanto, o que li neste livro sobre o maior acidente nuclear da história? Não são apenas histórias de pessoas que moravam na região entre Ucrânia, Russia e Bielorrússia, sendo a última, a área mais afetada.

A autora, Svetlana, ganhadora do prêmio Nobel de 2015, foi uma sugestão das meninas do blog As Bastardas. Escolhi esse livro da autora, pois por algum motivo, o assunto sempre despertou minha curiosidade. Nas 383 páginas, li entrevistas com aqueles que viveram e ainda vivem na região, e que tem força para seguir em frente, o que ainda é uma uma incógnita para mim.

Li sobre como o grande mote "informação é poder" nunca fez tanto sentido. Informação, naquele caso, era poder fugir. Era saber que tomar gotas de iodo era importante, quando essa informação vinha de um vizinho químico, e não do governo. Não foi só para o mundo que a extinta União Soviética demorou para informar sobre o desastre. A população entorno da usina também demorou a ser alertada, na verdade, a gente simples do campo não tinha sequer ideia de que a usina era tão perigosa...

O que sabemos sobre os procedimentos de segurança que foram ignorados é apenas uma ponta, quando pensamos que num país como aquele, que se gabava das suas conquistas sociais, com muitas pessoas escolarizadas, mas de que adianta formar tantas pessoas na escola, tantos treinamentos, tantos diplomas, tantas medalhas, se a informação que seria vital para a maioria das pessoas continuava sendo escassa. O mal e o bem, o de lá e o de cá, procurar culpados em um complô de governos ocidentais, quando no fundo o grande drama não foi causado pela explosão, mas simplesmente pelo descaso e incompetência em informar, divulgar, conscientizar.

Li sobre tudo que há de mais baixo no ser humano: sobre promessas de bonificações, bens, apartamentos, li sobre um tal átomo da paz, fiquei pensando na carinha feliz que ele deveria ter..., me lembrou algum emoji amarelinho. Ah, informação, tão cara, tão necessária. Ainda, li sobre a ganância das pessoas para saquear produtos contaminados e vende-los às pessoas que não tinham ideia de onde aquele produto havia saído.

Um livro dolorido mas necessário, para desmistificar muitos dos mitos que nós sabemos, ou pensamos saber sobre esse período da história. A grande conclusão que fica para mim é que as pessoas e os valores que se constroem continuam os mesmos. No fundo, bem no fundo, sabemos que não há diferença entre leste e oeste, quando aquilo que está em ambos é puramente humano. Finalizo com uma música triste, mas que entrega bem o espírito do livro.




terça-feira, 14 de agosto de 2018

LOSO - Anne de Green Gables

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Certa noite, estava conversando com minha amiga Daniela sobre alguns filmes quando ela me perguntou se eu já havia assistido à série Anne with an E. Intrigada pela indicação, e por que a referida série já tinha sido sugerida no meu feed da Netflix algumas vezes, procurei-a para colocar na minha lista. Minha surpresa foi descobrir que a série era baseada em um livro, que eu tinha na minha biblioteca há 3 anos, sem qualquer ideia de quando leria.

O título da vez aqui no blog é o romance canadense, lançado pela autora L.M. Montgomery em 1908, Anne de Green Gables, o livro (de uma série de nove em que a personagem aparece, seja como protagonista ou não) que narra a vida da jovem orfã Anne Shirley, dos 11 aos 16 anos.


Os irmãos Cuthbert, Marilla e Mathew, desejavam adotar um menino para ajudar Mathew no trabalho da fazenda, mas uma confusão feita pelos encarregados de encontrar tal garoto, trouxe  Anne a Green Gables, e depois de deliberar um pouco, os irmãos resolvem ficar com ela.


A gama de assuntos do livro vai portanto ser tão variada quanto é possível considerando a época em que ele foi escrito, bem como as possibilidades que aparecem na vida das pessoas que vivem em cidades pequenas e fazendas. A adoção, o sentimento de rejeição, um certo bullying por causa da cor do cabelo, a baixa auto-estima da criança institucionalizada, a criação de laços de amizade, o despertar do amor na adolescência e a preparação para admissão na escola de magistério são alguns dos assuntos tratados na obra.

O livro tem uma linguagem muito popular, mas não vulgar, e é baseado principalmente nos diálogos e narrativas de Anne. Considerando que a principal característica desta é a imaginação, o leitor deverá ter alguma paciência com as descrições no início do livro, mas tão logo se acostume, será fácil seguir Anne por entre as bétulas e cerejeiras. 
     
O enredo é original, linear e até mesmo simplório, mas narrado de um modo muito suave que o torna leve, sem perder o interesse dramático. É um excelente livro de recreação para estimular a imaginação ou para a fruição de uma história simples e divertida. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Aleatórios 4 - River e o luto


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]


       Aturdido, é o mínimo que se pode dizer quando você termina de assistir a uma das novas séries de detetive do Netflix. River conta a história do detetive John River, no momento em que este investiga o desaparecimento de uma adolescente ao mesmo tempo que precisa lidar com o assassinato de um colega, executada na sua frente.

          Por meio do desenrolar da série, podemos perceber que o luto é uma emoção muito particular e que cada um lida com ela de uma forma. Algumas pessoas, como o detetive John River, tem problemas para passar por esse período e estes problemas podem levar a outros (no caso dele, um tipo de esquizofrenia) que com o tempo virão a atrapalhar sua rotina e também suas relações com aqueles que permanecem seu ao lado enquanto o sofrimento não se dissipa.

        Outro grande aprendizado que podemos ter com a série, é que não devemos julgar a dor que os outros sentem, pois não conhecemos a extensão das suas emoções.

       Com várias referências aos anos 80, a série é ambientada numa Londres moderna, onde encontramos amostras sobre a pluralidade em uma grande cidade. Certamente um grande exercício de empatia sobre a vida moderna, os diversos tipos de solidão do indivíduo e o que isso acarreta em seu (nosso) desenvolvimento.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

LOSO - A menina submersa

[Para saber mais sobre a LOSO, clique aqui]

A menina submersa: memórias foi publicado pela primeira vez em março de 2012, o livro da autora irlandesa Caitlín R. Kiernan, publicado no Brasil pela editora Darkside, é descrito em algumas páginas da internet como uma história de fantasmas e chegou a vencer o prêmio "Bram Stoker". A princípio eu caí no conto do fantasma e realmente acreditei estar lendo uma história de assombrações. Durou pouco essa impressão e foi por causa disso que esse livro veio parar aqui.

O livro é narrado em primeira pessoa. O assunto principal são as memórias da personagem IMP (India M. Phelps), em um período em que ela passa por uma crise de saúde mental, que me pareceu ser esquizofrenia. Além deste, que é o assunto principal, as memórias deste período também abrangem um pouco das questões de gênero e sexualidade, além de falarem sobre o suicídio.

Pode ser descrito como um livro para o leitor comum, apesar de que a narração em primeira pessoa possa causar alguma estranheza principalmente nos momentos em que a crise da personagem se intensifica, quando assuntos e linguagem ficam confusos.

O enredo é original, considerando se tratar de um livro de memórias, e se desenvolve de forma emaranhada. As vezes temos a impressão de que a personagem se perdeu, nas suas lembranças, o que é um fato.

O interesse dramático se perde um pouco ao longo da narrativa, mas mesmo assim o final foi estimulante e satisfatório, provocando alguns pensamentos e conclusões que anteriormente não estavam lá.

Quanto aos valores para o leitor, o livro é recheado de referências culturais. Escritores, pintores e as obras deles, bem como músicas aparecem vez ou outra pelo texto. Vale a pena pesquisar sempre que eles aparecem, pois algumas surpresas virão. 

Outra característica interessante no quesito valores é o uso de elementos simbólicos feitos pela autora. Para aplicadores de biblioterapia que trabalhem também com psicologia analítica, o livro parece-me ser um prato cheio para tratar determinadas questões que envolver o inconsciente. Aparecem nessa história os fantasmas, as sereias, o mar, o rio, e em alguma medida é possível vislumbrar também as selkies, focas. Tudo muito bem amarrado pela autora para dialogar com o estado de saúde mental da personagem, onde consciente e inconsciente se misturam (intencionalmente ou não). As questões sobre o feminino também podem ser trabalhadas por meio dessa obra, pois há a massiva presença de personagens femininos.

Essa é a minha primeira resenha utilizando o LOSO, então pode ser que tenha ficado um pouco didático demais ou superficial demais. Eu espero melhorar nos próximos livros. =)

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Aleatórios - A bibliotecária B.

Respondendo à questão sobre a motivação para participarem das atividades biblioterapêuticas, a Bibliotecária B (assim identificada por Marina Guedes, autora da dissertação A biblioterapia na realidade bibliotecária do Brasil: a mediação da informação), apresentou o seguinte motivo:

"O interesse em resgatar o caráter humano da profissão de bibliotecário"  


Não procuro imaginar o que essa pessoa tem em mente quando define "caráter humano", mas para mim, o resgate dessa dimensão na pratica profissional do bibliotecário passa diretamente pela questão da educação, não como vista recentemente nas publicações de biblioteconomia sobre a educação de usuários para a competência informacional, mas de um sentido mais amplo de educação. Poder ensinar, a qualquer um que estiver interessado, quanto potencial de crescimento pessoal, espiritual, além de escolar, um livro pode oferecer. E para isso, imagino que alguns bibliotecários devam negociar fortemente seus direitos de leitor. 

A mediação da leitura envolve o conhecimento intimo dos livros, permitir-se ser mudado pelo livro. Entender-se dialógico, extrapolar perceber e tomar nota daquilo que vai num livro. Nada disso cabe numa leitura técnica tradicional, com apego  a folhas de rosto e sumários...
Para trabalhar com biblioterapia, parece-me preciso abrir mão do seu gosto literário para ler de tudo, e se deixar tocar pelo livro. Para constituir-se biblioterapeuta, além de um ou outro curso tradicional como biblioteconomia, pedagogia e psicologia, e de um interesse genuíno por leitura de literatura, é preciso um exercício constante de se colocar no lugar do outro, e permitir-se sentir outros modos de interlocução com o texto e com a realidade, e não se intimidar caso os leitores não sejam tocados pela obra como você acreditou que eles seriam.   

terça-feira, 31 de julho de 2018

Mediador, Biblioterapeuta ou Aplicador de Biblioterapia: notas sobre a importância do nome.

As bibliotecárias anônimas entrevistadas pela Mariana Guedes em sua dissertação, com quem mais me identifiquei (BB, BF e BG), não são unânimes na escolha do nome pelo qual o profissional bibliotecário capacitado a trabalhar com biblioterapia deva ser chamado. Vejamos o que dizem elas:

"Utilizo sempre o termo Aplicador de biblioterapia. Biblioterapeuta é o psicólogo. Mediador da informação me parece muito técnico, não condizente com o caráter lúdico da biblioterapia" (Bibliotecária B)

"A biblioterapia não se configura como leitura de autoajuda e muito menos como contação de história, muito pelo contrário, é uma terapia, portanto, o profissional que atua nessa área tanto pode ser chamado de terapeuta ou biblioterapeuta" (Bibliotecária F)

"No meu ponto de vista, qualquer termo pode ser utilizado, acho de menor importância, tal preocupação. Todavia, nas instituições onde atuo, ou atuei, os membros da equipe sempre foram chamados de biblioterapeutas. Particularmente, prefiro chamar aqueles que trabalham com a biblioterapia de mediadores da informação, porque fazem da leitura uma ponte entre a informação e o conhecimento, a fim de ajudar as pessoas a conquistarem sua cidadania. São pessoas que trabalham em prol da dignidade da pessoa humana, dentre eles o bibliotecário, que nessa função deve cumprir um programa de leitura compatível com a vida da pessoa a ser ajudada. Deve, portanto, investigar seus interesses, acompanhar a leitura e fazer uma discussão posterior para chegar o resultado". (Bibliotecária G) 

Concordo um pouco e discordo com todas elas. Gostaria agora de analisar o motivo, pois a escolha de um nome profissional pelo qual você se define reflete diretamente no que as pessoas esperam de você. Nesse caso, gosto muito da palavra biblioterapeuta, mas ela sempre me vem à memória como algo associado à terapia clínica (seja ela feita com um psicanalista, um psicólogo ou psiquiatra). Ouso aqui fazer uma afirmação generalista, mas corre-se o risco de que o cliente de biblioterapia procure o profissional para tentar fugir de um tratamento clínico convencional, dados os estigmas que estes carregam junto a si. A biblioterapia pode ser usada por todos esses profissionais, mas nunca será uma substituta deles.  

Mediadores de informação parece um nome muito frio, apesar de que a definição dada pela bibliotecária G é a que faz meu coração bater mais forte.  Pensar um bibliotecário como um profissional que trabalha em prol da dignidade humana para mim resgata o caráter humano do próprio profissional e aproxima ele da dimensão educativa da profissão e da dimensão educativa da biblioteca, viabilizando ferramentas para que os indivíduos possam encarar os processos de mudança internos e externos.

Caso eu possa aqui fazer uma colagem das falas selecionadas para justificar minha escolha, ficaria assim "A biblioterapia não se configura como leitura de autoajuda e muito menos como contação de história. O bibliotecário nessa função deve cumprir um programa de leitura compatível com a vida da pessoa a ser ajudada. Deve, portanto, investigar seus interesses, acompanhar a leitura e fazer uma discussão posterior para chegar o resultado. Utilizo sempre o termo Aplicador de biblioterapia. (Bibliotecárias FGB).

Acredito que seria melhor esclarecido se adotássemos a idéia de que biblioterapia é uma técnica que muitos profissionais podem usar em diversos ambientes. Para mim, seria muito melhor pensar em:

  • Bibliotecário aplicador de biblioterapia;
  • Psicólogo aplicador de biblioterapia;
  • Professor aplicador de biblioterapia;
  • Psicanalista aplicador de biblioterapia;
  • Psiquiatra aplicador de biblioterapia;
  • Assistente social aplicador de biblioterapia.

E assim cada profissional deverá adaptar as ferramentas da biblioterapia à sua prática. Uma sala de aula tem suas particularidades que a diferem da biblioteca (pensando na interação dos indivíduos. Assim como o hospital e o consultório são ambientes da área da saúde mas possuem configurações completamente diferentes. Há ainda as sessões de biblioterapia em prisões, grupos de ajuda, entre outros.

Cada local tem sua particularidade (regras de funcionamento), nos hospitais, por exemplo, há alas em que não se pode fazer trabalhos com grupos (rodas de leitura), devendo a biblioterapia ser aplicada individualmente, no leito do paciente.

Cada público tem sua especificidade: em uma sala de aula todos os alunos tem um nível de alfabetização parecido, enquanto na enfermaria de um hospital isso não pode ser controlado. Nas prisões, a leitura pode ser usada como meio de alcance da cidadania e também para a diminuição da pena.

Cada profissional conhece bem o seu público e deverá organizar seus conhecimentos em biblioterapia de acordo com eles. Nesse sentido, acredito que não é desejável uma formação uniformizadora do biblioterapeuta, pois é na diversidade que a biblioterapia cresce e atinge os diversos tipos de leitores. Entretanto, acredito que há de surgir alguma entidade que regulamente e organize a prática, evitando desentendimentos entre os diversos profissionais, para que uns e outros não ultrapassem as fronteiras legais de cada profissão.  

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Boas notícias: estão todos bem!

Duas coisas que são boas separadas e ficam ainda melhores juntas: cinema e literatura! E dia desses, aqui no Cinema e Psicanálise de Franca, eu conheci o filme "Estão todos bem".



Uma delícia de filme, a história de um pai que dedicou-se ao trabalho para dar uma boa qualidade de vida aos filhos.  No momento de vida do filme, este pai agora viúvo e aposentado se vê, sem a grande conexão que o unia aos filhos: sua esposa. Era ela que falava com os filhos e compartilhava com ele as notícias. Em busca de se aproximar dos filhos e  restabelecer as conexões perdidas, ele parte em uma jornada pelo país, visitando a cidade e a casa de cada um dos filhos. Nesse caminho, descobre que a vida que ele imaginava que os filhos tinham era uma grande ficção, construída sobre pilares de amenizações e omissões feitas por sua bem intencionada esposa, com o objetivo de não lhe causar nenhuma decepção. A esposa, não conhecemos, não há sequer uma fotografia sua em todo o filme.




Mas eis que quem ama literatura nunca deixa as histórias sozinhas e abandonadas em um canto, e assim, remexendo com as minhas memórias inquietas de quem já tinha visto em outro lugar um algo ao menos parecido com aquilo, me lembrei de um livro da Maria Valéria Rezende... o único que li dela. Boas notícias, um dos capítulos narrados em Vasto Mundo é um conto sobre a professora Zefinha Lima, moradora do sítio Ventania, que depois de emprestar pela primeira vez  a sua voz e sua arte de recontar a vida, mesmo tocada pela culpa do pecado, determinou-se a mentir pelo bem. "As boas mentiras brotavam-lhe fáceis e convincentes, na ponta da língua". Foi assim que um atropelamento se tornou uma queda de bicicleta, e num assassinato a tiros  o morto desencarnou no leito do hospital, abençoado por um padre... "Era bom fazer um mundo melhor e aos poucos passou a viver como se o que inventava fosse a verdade,,,"

E que minha mente voa é fato conhecido, e eu tentando imaginar se e como Ana Batista, Francisco Bento, Severina Araújo, Olindina e tantos outros que receberam cartas, lidas por Zefinha, descobriram que suas verdades eram mentiras para o bem. E se, assim como o personagem do pai, no filme, eles também buscaram alguma forma de por o passado a limpo. Se aquele pai pode pegar um trem e ir de cidade em cidade, que terá sido feito de um povo analfabeto que mora do sertão do nordeste brasileiro, e mal tem dinheiro para sobreviver?
  
E vou concluindo que em duas obras completamente diferentes temos um panorama bonito sobre a verdade: as dores de quem teima em não dize-la e as consequências para quem prefere não ouvi-las. Outra coisa bonita que vejo, mas agora mais na história da Maria Valéria: a importância da alfabetização e da leitura na vida das pessoas! Já dizia um famoso meme da internet: Viver sem ler é muito perigoso, te obriga a acreditar no que te dizem... 

terça-feira, 24 de julho de 2018

Mediação da Informação 3 - Leitura Orientada à Seleção de Obras (LOSO)


Retomando as anotações sobre mediação da informação, tentarei hoje falar das minhas dificuldades com aquela que deveria ser a maior facilidade de um bibliotecário: "a biblioterapia como mediação da informação é reconhecida no trabalho de profissionais que selecionam materiais informacionais adequados para disseminar informações para pessoas com determinadas necessidades" (GUEDES; BATISTA, 2013, p. 244, grifo nosso). A questão da seleção das obras empregadas em uma sessão de biblioterapia foi a primeira que ocupou a minha mente quando comecei a estudar o assunto. Apesar de compreender globalmente a ideia de que os livros dialogam com as pessoas, eu não conseguia conceber como uma obra que se enquadraria nos problemas ou preocupações de um alguém específico.

E lá estava eu, em pleno final do ano de 2016, tentando encontrar um norte para fazer outra coisa, quando fiz um empréstimo da obra da Nice Menezes de Figueiredo. Fazendo a leitura esquemática do livro, notei que apareceram questões sobre os livros que envolviam o conteúdo deles e não somente as listas de indicações e as estatísticas de uso tão comuns em biblioteconomia. Na hora não tive tempo de aprofundar a leitura, mas intuitivamente, soube que aquele texto seria útil para o blog.

Dois anos depois, agora que retomando a escrita do meu aprendizado,  fazendo algumas organizações em minhas pastas de arquivos sobre biblioterapia, encontrei novamente aquele capítulo 1 e  dessa vez eu liguei minha luminária, peguei um marcador colorido e mergulhei no texto.

Não posso afirmar que essa foi a primeira vez que essas orientações apareceram na literatura brasileira sobre seleção de obras, mas posso certamente afirmar que foi a primeira vez que encontrei -me com elas. Chamadas de testes para não ficção e para ficção, elas são algumas perguntas que você pode fazer às obras. A proposta de Figueiredo-Haines (não foi possível para mim determinar o que é tradução e o que é adaptação nesse texto) era desenvolver ferramentas para orientar os bibliotecários de bibliotecas públicas na seleção de obras para um tipo de acervo abrangente em assuntos, visando atender uma comunidade diversa, tanto em nível de leitura quanto em preferências para leitura. 

Posso afirmar que, até hoje, não encontrei na literatura específica de biblioterapia (que não é muito vasta), nenhuma indicação de como escolher ou como identificar o potencial de um livro. Nesse sentido, a forma como a autora, fala do papel do bibliotecário para a biblioteca pública, despertou minha atenção para os muitos pontos de identificação com o papel do bibliotecário aplicador de biblioterapia, portanto, não somente os testes, mas toda a ideia do benefício da leitura para o indivíduo me fizeram querer explorar aquilo que ela propõe.

Os testes para não ficção e para ficção abrangem tópicos como:  assunto, autoridade, qualidades, características físicas e valores para o leitor, e testes para ficção. Considerando que esse blog é um relato de aprendizagem e pesquisa, e não tem compromissos nem vínculos com nenhum trabalho acadêmico, tomei a liberdade de selecionar apenas alguns tópicos do testes para as minhas primeiras leituras orientadas à seleção de obras. Assim ficou meu roteiro:   

Assunto:

  • Qual é o assunto ou tema?
  • São cobertos assuntos adicionais?
  • É popular? Erudito? É para o leitor comum?


Valores para o leitor

  • Informação
  • Contribuição para a cultura?
  • Estímulo para os interesses?
  • Recreação ou entretenimento?
  • Que leituras relacionadas oferece?
  • A que tipo de leitura atraí?


Ficção

  • É real? Sensacionalista? Exagerado? Distorcido?
  • Tem vitalidade e consistência na descrição dos personagens? Psicologia válida? Compreensão da natureza humana?
  • É o enredo original? Vulgar? Possível? Simplório? Emaranhado?
  • É o interesse dramático mantido?
  • É estimulante? Provoca pensamentos? Satisfaz? Inspira? Diverte?

Esta fase durará até novembro ou dezembro desse ano (2018), quando pretendo fazer um balanço para saber se os testes são ou não adequados ao objetivo. Tentarei utilizar o mesmo para novelas, contos e poesia, mas considerando que esse é um blog sobre tentativas, eu avisarei quando isso não der certo com algum texto e procurarei outros modos de avaliar a potência terapêutica de cada um.
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Bibliografia:

FIGUEIREDO, Nice Menezes de. Desenvolvimento e avaliação de coleções. Rio de Janeiro: Rabiskus, 1993. 184 p. (Cap. Seleção de Livros, p. 9-50).

GUEDES, Marina Giubertti; BATISTA, Sofia Galvão. Biblioterapia na Ciência da Informação: comunicação e mediação. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 18, n. 36, jan-abr, 2013, p. 231-253.


sexta-feira, 20 de julho de 2018

Aleoatórios 3 - Clube de leitura Letras & Sonhos



Sábado, dia 14/07/2018, foi dia de reunião com as meninas do Letras e Sonhos. O livro do mês foi "A menina submersa", de Catlín R. Kiernan. Narrativa em primeira pessoa surpreendente, e ouvir as meninas do grupo ampliou ainda mais meu olhar.  Mais detalhes em agosto. :)





terça-feira, 17 de julho de 2018

Mediação da Informação 2

[Continuando]

Lendo o trabalho da Mariana Guedes, a minha concepção de mediação implícita da informação se alargou, e isso graças às entrevistas estruturadas que ela fez com bibliotecárias que aplicam e pesquisam biblioterapia no Brasil.   

Penso, agora, que a mediação implícita da informação pode também ser vista nas seguintes atividades:

  • Estudo de usuários;
  • Planejamento e organização das atividades;
  • Seleção de obras a serem empregadas;
  • Averiguação das respostas por parte dos pacientes/clientes.
A autora da dissertação pontuou que a pesquisa dela era sobre o papel do bibliotecário quanto a mediador da informação e não mediação da leitura. Acho que aqui posso fazer uma suposição de que a mediação da leitura seria a mediação explícita da informação. Aqui é o ponto em que sinto maior dificuldade de situar o bibliotecário sozinho como "aplicador de biblioterapia". Vejamos as possibilidades apreendidas até aqui:

  • Biblioterapia individual: parece mais adequada quando aplicada por profissionais de saúde em seus consultórios. Psicólogos e psicanalistas, por exemplo.
  • Biblioterapia em grupo: clubes de leitura, rodas de leitura. 
Se antes o nó em minha cabeça era sobre a seleção das obras, a ele se juntaram mais dois: como fazer um estudo de usuários eficiente para os casos em que a biblioterapia for uma proposta de intervenção e como realizar o próprio processo de mediação da leitura?

Perguntas para as quais ainda não encontrei respostas, mas sigo tentando...  
 

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Aleatórios 2 - A biblioterapêuta F.

Acredito com fé que quando encontramos pessoas com as quais temos alguma afinidade de pensamento, devemos nos aproximar delas e trocar algumas figurinhas com a finalidade de enriquecimento mútuo das partes.

Lendo a dissertação da Marina Guedes, encontrei três pessoas, mas que por via das circunstâncias eu não sei quem são. Explico: a autora, para preservar a identidade das entrevistadas, trocou o nome delas por letras. 

Deixo registrada aqui uma fala que me inquietou e me levou a pensar sobre a capacitação e a educação continuada de um bibliotecário:

"O motivo que me levou a implementar as sessões de biblioterapia foi devido a perceber que muitas pessoas enfrentam conflitos, de toda natureza e perceber que podemos contribuir para a melhora desses conflitos, desde que tenhamos competência para tal. Então, busquei parcerias com psicólogos e terapeutas para poder realizar essas sessões" (Bibliotecária F)   

terça-feira, 10 de julho de 2018

Mediação da Informação 1


A pesquisa sobre a seleção de obras para a aplicação da biblioterapia me levou a trilhar alguns caminhos novos, outros já conhecidos. Sobre os novos não quero falar agora, vou guardar para mim enquanto amadureço as ideias colhidas ao longo deles.

Dos caminhos já conhecidos, porém dessa vez trilhados a esmo, recolhi na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do IBICT ( clique aqui para o link) algumas dissertações e teses defendidas no Brasil que abordam a biblioterapia. Algumas delas foram defendidas na área de Ciência da Informação (CI), outras na área de Psicologia. Tratarei agora somente da leitura daquelas defendidas em CI, ṕor sua clara proximidade com a Biblioteconomia, área que para mim é mais confortável de me mover.

Das dissertações encontradas, foi a da autora Mariana Giubertti Guedes, defendida em 2013 na Universidade de Brasília, que primeiro me provocou. Isso por que o título, "A biblioterapia na realidade bibliotecária do Brasil: a mediação da informação", me levou de volta a um evento que participei em 2015 com o professor da Unesp/Marília, Dr. Oswaldo Francisco Almeida Júnior (o OFAJ, para os bibliotecários que me leem ). Neste dia com o OFAJ, tive o gostinho de perceber palavras bakhtinianas saindo reverberando dentro de mim (e me fazendo lembrar das aulas de Filosofia da Linguagem na UFSCar). Mas não somente isso, foi esse o dia que descobri o termo Mediação Implícita da Informação.  Foi escorada, calçada e suportada por esse conceito que continuei minha atuação como bibliotecária de processamento técnico, entendendo que a mediação da informação de maneira implícita seria o melhor que eu poderia fazer para tentar aliviar uma frustração que começava a nascer: não poder trabalhar diretamente com literatura dentro de uma biblioteca universitária.

[Continua...] 

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Aleatórios 1 - Figueiredo, Haines e outros

E então estava eu tentando fazer um recorte e estruturar algumas sessões de biblioterapia quando me ocorreu que separar textos que já foram comentados por outros praticantes parece sempre o caminho mais seguro, mas ficou um porém, aquela dúvida que sempre ecoa: como selecionar textos novos?

Em busca de uma resposta para essa questão, tratei de olhar para o que dizem os bibliotecários a respeito da seleção de obras para as oficinas e rodas de biblioterapia. E qual minha decepção, quando descubro que é quase unanime: todos os textos em que coloquei as mãos desde que comecei a estudar a biblioterapia dizem que o principal papel do bibliotecário é o da seleção de livros, mas nenhum deles diz como identificar textos com potencial terapêutico.

Foi então que arregacei as mangas e entrei "nos livros velhos" de biblioteconomia, aqueles clássicos que minhas professoras do primeiro ano de faculdade sempre citavam e que eu nunca havia lido. E eis que como uma lâmpada num quarto escuro, encontrei dentro de um texto da Nice Figueiredo (Desenvolvimento e Avaliação de Coleções. Rio de Janeiro: Rabiskus, 1993), uma pequena tradução e adaptação de outra obra, da americana Helen Haines, Living with books, que será comentada no próximo post.

Agora quero apenas registrar: senti-me incomodada depois de ler aquele capitulo 1. Um dos motivos por exemplo, foi encontrar, citado por Figueiredo, Shera criticando "o fato de o bibliotecário ter-se afastado da bibliografia dando maior atenção a áreas as quais não estava equipado para atuar, mas que lhe ofereciam maior nível social [...]" (Shera apud Figueiredo, 1993, p. 11). Fiquei demorando ali nas páginas, criando cenários sobre como os bibliotecários perderam a dimensão do seu trabalho educativo e se esconderam atrás de relatórios e programas de computador? Fiquei a imaginar porque uma considerável parcela daqueles que fizeram faculdade comigo se pós-graduaram em Engenharia de Produção? (Eu mesma fiz em linguística, mas isso é assunto para outro dia). 
  
Cabe à biblioterapia identificar mais que o potencial de ser lido em um livro, é de como ser lido, por quem e como isso irá mudar o olhar do leitor sobre sua vida... Relatórios não dão conta dessa complexidade, é preciso se abrir para mais caminhos e se entregar para outros aprendizados.    

[Continua...]

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Clínica Literária

[Este texto fazia parte aba com o mesmo título e entrou no blog em 2016. Estou reformulando a página, mas para não tirar o conteúdo do ar, passei o texto para uma postagem. Se tudo der certo, na aba "clínica literária" terá conteúdo original em alguns meses].

Como eu expliquei nesse post aqui, esta lista é uma tradução livre e adaptada da lista que pode ser encontrada no Tolstoy Therapy.  Ela será usada como teste para o desenvolvimento de método de leitura de livros de ficção para determinar o potencial de um livro em uma sessão de biblioterapia, se esse potencial existir. Esta lista pode ser melhor aproveitada por profissionais que queiram aplicar a biblioterapia com seus pacientes e que precisam de indicações de obras que se relacionem com determinados problemas. A intenção da revisão feita neste blog não é criticar, aprovar ou invalidar a lista, é apenas a busca de um método para a elaboração de novas listas.

Para ajudar a superar um abuso:

O caçador de pipas – khaled Hosseini
Uma criança no inferno – Dave Pelzer
Quarto – Emma Donogue
Mau começo – Lemony Snicket
Eu sei porque o pássaro canta na gaiola – Maya Angelou

Auto-aceitação:

O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
A princesinha – Frances Hodson Burnett
O efeito Rosie -  Graeme Simsion

Lidando com o vício:

Réquiem por um sonho – Hubert Selby Jr.
Um milhão de pedacinhos – James Frey
O homem duplo - Philip K. Dick
Almoço Nu – William S. Burroughs
Trainspotting – Irvine Welsh

Para ser mais ambicioso (mas não num sentido ruim):

Sherlock Holmes – Arthur Conan Doyle (todos)

Para lidar com a ansiedade:

A insustentável leveza do ser -  Milan Kundera
A outra volta do parafuso – Henry James
Guerra e Paz – Tolstói
Em busca do tempo perdido – Marcel Proust
Howards End – E. M. Forster
A elegância do ouriço – Muriel Barbery

Infâncias difíceis:

As cinzas de Angela – Frank Mccourt
Oliver Twist – Charles Dickens
O senhor das moscas – William Golding
O Sr. Pip – Loyd Jones

Definindo certo e errado:
O sol é para todos – Harper Lee
O grande Gatsby – F. Scott Fitzgerald
O mercador de veneza – Willian Shakespeare
Uma certa justiça – P. D. James

Depressão e a tristeza:

As crônicas de Nárnia – C. S. Lewis
Agência n. 1 de mulheres detetives – Alexander Mc Call Smith
Alta fidelidade – Nick Hornby
O ancião que saiu pela janela e desapareceu – Jonas Joansson
O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
O BGA  -Roald Dahl
Harry Potter – J. K. Rowling (todos)
Sidarta – Herman Hesse
O lado bom da vida – Mathew Quick

Para compreender deficiências: 

Um mundo à parte – Jodi Picoult
O estranho caso do cachorro morto  -Mark Haddan
O guardião de memórias – Kim Edwards
Forrest Gump – Winston Groom

Exclusão:

O sol é para todos – Harper Lee
Notas do subsolo -  Fiódor Dostoievsky
As ondas – Virgínia Woolf
Jane Eyre -  Charlotte Bronte
O apanhador no campo de centeio -  J. D. Salinger
1984 – George Orwell
O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
O grande Gatsby
As aventuras de Pi -Yann Martel
A elegância do ouriço – Muriel Barbery
Poemas - Emily Dickinson

Medo de morrer: 

A morte de Ivan Ilytch – Tolstói
A culpa é das Estrelas – John Green
Uma vida interrompida – Alice Sebold
A chuva antes de cair – Jonathan Lee
O fio da vida -  Kate Atinkson
Cem anos de solidão – Gabriel Garcia Márquez
A elegância do ouriço – Muriel Barbery

Crescer... : 

Peter Pan – J. M. Darrie
O apanhador no campo de centeio – J. D. Salinger
As vantagens de ser invisível – Stephen Chosky
Kafka a beira mar – Hakuri Murakami
Harry Potter – todos
As aventuras de Pi – Yann Martel

Perseverança:

A Odisseia -  Homero
O Conde de Monte Cristo – Alexandre Dumas
A casa dos espíritos – Isabel Allende
As aventuras de Pi – Yann Martel
Meio sol amarelo – Chimamanda Ngozi Adiche
O livreiro de Cabul – Asne Seiertad
A cidade do sol – Khaled Hosseini
A resposta – Kathryn Stockett
Quarto -  Emma Donoghue
O menino do pijama listrado – John Boyne
O conto da Aia – Margaret Atwood
Os homens que não amavam as mulheres – Stieg Larson

Corações partidos e outras questões de amor romântico:

Anna Karenina – Tolstói
Orgulho e Preconceito – Jane Austen
A elegância do ouriço – Muriel Burbery
Quem é você, Alasca? – John Green
Uma dobra no tempo -  Madelaine L’Engle

Saudades de casa:

Estrela do mar – Joseph O Connnor
A Guerra dos tronos – George R. R. Martin

           Enfrentando doenças:

A guardiã da minha irmã – Josi Picoult
O Jardim Secreto -  Frances H. Burnet
A culpa é das estrelas – John Green

Para encontrar inspiração:

Siddhartha – Herman Hesse
Um conto de duas cidades – Charles Dickens
O jardim secreto – Fraces Burnett
Um teto todo seu – Viginia Woolf
Cem anos de solidão – Gabriel Garcia Márques
A Elegância do ouriço -  Muriel Barberi

Autoconhecimento:

A Elegância do ouriço -  Muriel Barberi
Grandes Esperanças – Charles Dickens
A insustentável leveza do ser – Milan Kundera
Folhas de relva – Walt Whitman
Livre – Cheryl Strayed

Baixa autoestima:

Os ensaios – Michel de Montaigne
Meditações – Marco Aurélio
Como viver: ou, uma autobiografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta – Sarah Bakewell
Jane Eyre – Charlotte Bronte
A última fugitiva – Tracy Chevalier

Enfrentando perdas:

P.S.: Eu te amo – Cecilia Ahern
O Ano da leitura mágica – Nina Sankovitch
O lado bom da vida – Matthew Quick
Seguir em frente, recomeçar:
Estrela do mar – Joseph O Connor
O Grande Gatsby – F. S. Fitzgerald
P. S.: Eu te amo

TOC:

Se alguma vez – Meg Rosoff
Moby Dick – Herman Melville
Operação perfeito - Rachel Joyce
Morte Súbita – J. K. Rowling
Meditações – Marco Aurélio

Perfeccionismo:

Infância, Adolescência e Juventude – Tolstói
A Redoma de vidro – Sylvia Plath

PTSD e trauma:

As vantagens de ser invisível – Stephen Chobsky
Mrs. Dolloway – Virginia Woolf
Hamlet – Shakespeare
Amada – Toni Morrison

Questões sobre raça:

Sobre a beleza – Zadie Smith
A Resposta – Kathryn Stockett
A cor purpura – Alice Walker

Em busca de significado: 

Guerra e Paz – Tolstói
O sofrimento de uma vida sem sentido – Viktor Frankl
Anna Karenina -  Tolstoi
Zen e a arte da manutenção de motocicletas – Robert M. Pissig
O livro do riso e do esquecimento – Milan Kundera
Siddhartha – Herman Hesse
Momo e o Senhor do tempo – Michael Ende
A Elegância do ouriço -  Muriel Barberi

Precisando de quietude, apreciar a solidão:

Walden, ou a vida nos bosques – Henry David Thoreau
Um teto todo seu – Virgínia Woolf
Na natureza selvagem – John Krakauer

Amor não correspondido:

Primeiro amor – Ivan Turguêniev
O amor nos tempos do cólera – Gabriel Garcia Márquez
O grande Gatsby – F. S. Fitzgerald
O lado bom da vida – Matthew Quick
Rebecca, a mulher inesquecível – Daphne Du Maurier