terça-feira, 28 de agosto de 2018

LOSO - Não me abandone jamais

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Uma distopia, uma ficção científica. Um livro enraizado na alma humana que vai levar o leitor a questionamentos sobre ética e o propósito na vida.

Não me abandone jamais, do autor japonês Kazuo Ishiguro, foi lançado em 2005 e ganhou adaptação para o cinema em 2010. A história é contada em primeira pessoa por Kathy, uma garota que vive em uma escola-internato. Não ouvimos menções a pais, a férias, a viagens e a nada que se passe fora da escola. Isso tem um motivo, mas creio que é melhor ler para saber...

O enredo é um pouco difícil para compreender, e isso é intencional. Kazuo narra a história sem explicar para o leitor quais são as regras do mundo em que os personagens estão. Este estilo de narração obriga o leitor a formular hipóteses sobre o que pode estar acontecendo naquele universo.

Apesar da narrativa em distopia, as personagens que permeiam esse universo possuem dramas extremamente comuns, e será interessante reconhecer comportamentos e analisar a reação da narradora a todos eles. 

Pense em uma grande amizade que começa no jardim de infância com todas as suas brincadeiras, e no quanto se tornam diferentes as duas pessoas que eram amigas. Ciúmes, mentiras, inveja e intrigas são entrelaçadas com um profundo sentimento de apego e afeto. Diante da impossibilidade de ir embora, perdoar parece sempre a opção mais conciliadora. Mas e quando você chegou àquele ponto onde outros afetos estão em jogo: perdoar? lutar pelo que deseja? Ir embora?

O livro é estimulante, podendo ser trabalhado em uma diversidade de grupos de leitura, seja para debater sobre a ética na pesquisa científica ou sobre como começamos e terminamos relacionamentos, sejam de amizade ou amor. Também é possível encontrar um tema muito interessante na discussão sobre o papel da arte na vida das pessoas.

Para aplicadores de biblioterapia que trabalham com grupos, eu sugiro prestar muita atenção a todo o potencial na discussão sobre os possíveis: Quantos diálogos podemos fazer com a nossa vida e aquilo que é possível nos tornarmos. O que nos diferencia e nos individualiza? Um código genético ou um código cultural que vamos incorporando à medida que crescemos e nos individualizamos, aprendendo a tomar decisões sobre grandes questões e outras nem tanto mas que impactarão diretamente em quem nós somos, e em desejamos ser, e em quem nos tornaremos no futuro.

A narração é muito bem construída e em vários momentos recordei as mesmas fases da vida que a personagem narra, e a linguagem pode ser claramente compreendida pelo leitor comum. Quem entre nós não tinha uma música preferida na adolescência, ou mesmo na infância? Mesmo que você não compreendesse nada do que estava sendo cantado ali, e talvez mesmo que hoje a música não diga nada à sua realidade, escuta-la ainda trás algum acalento ao coração, um sossego na alma causado pela evocação de uma lembrança querida. Com Kathy também foi assim, e a faixa Never let me go embalou sua juventude em Hailsham, e emprestou seu título ao livro.






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