sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Aleatórios 5 - Vozes de Tchernóbil, de Svetlana Aleksiévitch


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

Bombas assustam. A guerra é aterrorizante. Hiroshima e Nagazaki estão ainda frescas em nosso imaginário coletivo para que não nos esqueçamos do horror da guerra. Mas há algo ainda mais aterrorizante que uma guerra, a meu ver. E é sobre isso que o livro resenhado hoje trata.

Recentemente, no Brasil, tivemos o caso do rompimento de uma represa de rejeitos na cidade de Mariana, interior de Minas Gerais. Na história recente do país, esse foi o primeiro evento que provocou em mim uma intensa necessidade de pensar sobre os procedimentos adotados para a evacuação de locais em casos de catástrofes, sobre as agências de regulação e fiscalização, sobre contenção de custos e maximização de lucros.


Como explicar, portanto, o que li neste livro sobre o maior acidente nuclear da história? Não são apenas histórias de pessoas que moravam na região entre Ucrânia, Russia e Bielorrússia, sendo a última, a área mais afetada.

A autora, Svetlana, ganhadora do prêmio Nobel de 2015, foi uma sugestão das meninas do blog As Bastardas. Escolhi esse livro da autora, pois por algum motivo, o assunto sempre despertou minha curiosidade. Nas 383 páginas, li entrevistas com aqueles que viveram e ainda vivem na região, e que tem força para seguir em frente, o que ainda é uma uma incógnita para mim.

Li sobre como o grande mote "informação é poder" nunca fez tanto sentido. Informação, naquele caso, era poder fugir. Era saber que tomar gotas de iodo era importante, quando essa informação vinha de um vizinho químico, e não do governo. Não foi só para o mundo que a extinta União Soviética demorou para informar sobre o desastre. A população entorno da usina também demorou a ser alertada, na verdade, a gente simples do campo não tinha sequer ideia de que a usina era tão perigosa...

O que sabemos sobre os procedimentos de segurança que foram ignorados é apenas uma ponta, quando pensamos que num país como aquele, que se gabava das suas conquistas sociais, com muitas pessoas escolarizadas, mas de que adianta formar tantas pessoas na escola, tantos treinamentos, tantos diplomas, tantas medalhas, se a informação que seria vital para a maioria das pessoas continuava sendo escassa. O mal e o bem, o de lá e o de cá, procurar culpados em um complô de governos ocidentais, quando no fundo o grande drama não foi causado pela explosão, mas simplesmente pelo descaso e incompetência em informar, divulgar, conscientizar.

Li sobre tudo que há de mais baixo no ser humano: sobre promessas de bonificações, bens, apartamentos, li sobre um tal átomo da paz, fiquei pensando na carinha feliz que ele deveria ter..., me lembrou algum emoji amarelinho. Ah, informação, tão cara, tão necessária. Ainda, li sobre a ganância das pessoas para saquear produtos contaminados e vende-los às pessoas que não tinham ideia de onde aquele produto havia saído.

Um livro dolorido mas necessário, para desmistificar muitos dos mitos que nós sabemos, ou pensamos saber sobre esse período da história. A grande conclusão que fica para mim é que as pessoas e os valores que se constroem continuam os mesmos. No fundo, bem no fundo, sabemos que não há diferença entre leste e oeste, quando aquilo que está em ambos é puramente humano. Finalizo com uma música triste, mas que entrega bem o espírito do livro.




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