E então estava eu tentando fazer um recorte e estruturar algumas sessões de biblioterapia quando me ocorreu que separar textos que já foram comentados por outros praticantes parece sempre o caminho mais seguro, mas ficou um porém, aquela dúvida que sempre ecoa: como selecionar textos novos?
Em busca de uma resposta para essa questão, tratei de olhar para o que dizem os bibliotecários a respeito da seleção de obras para as oficinas e rodas de biblioterapia. E qual minha decepção, quando descubro que é quase unanime: todos os textos em que coloquei as mãos desde que comecei a estudar a biblioterapia dizem que o principal papel do bibliotecário é o da seleção de livros, mas nenhum deles diz como identificar textos com potencial terapêutico.
Foi então que arregacei as mangas e entrei "nos livros velhos" de biblioteconomia, aqueles clássicos que minhas professoras do primeiro ano de faculdade sempre citavam e que eu nunca havia lido. E eis que como uma lâmpada num quarto escuro, encontrei dentro de um texto da Nice Figueiredo (Desenvolvimento e Avaliação de Coleções. Rio de Janeiro: Rabiskus, 1993), uma pequena tradução e adaptação de outra obra, da americana Helen Haines, Living with books, que será comentada no próximo post.
Agora quero apenas registrar: senti-me incomodada depois de ler aquele capitulo 1. Um dos motivos por exemplo, foi encontrar, citado por Figueiredo, Shera criticando "o fato de o bibliotecário ter-se afastado da bibliografia dando maior atenção a áreas as quais não estava equipado para atuar, mas que lhe ofereciam maior nível social [...]" (Shera apud Figueiredo, 1993, p. 11). Fiquei demorando ali nas páginas, criando cenários sobre como os bibliotecários perderam a dimensão do seu trabalho educativo e se esconderam atrás de relatórios e programas de computador? Fiquei a imaginar porque uma considerável parcela daqueles que fizeram faculdade comigo se pós-graduaram em Engenharia de Produção? (Eu mesma fiz em linguística, mas isso é assunto para outro dia).
Cabe à biblioterapia identificar mais que o potencial de ser lido em um livro, é de como ser lido, por quem e como isso irá mudar o olhar do leitor sobre sua vida... Relatórios não dão conta dessa complexidade, é preciso se abrir para mais caminhos e se entregar para outros aprendizados.
[Continua...]
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