sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Aleatórios 11 - Notas sobre - As meninas, Lygia Fagundes Telles


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

A leitura na qual tenho me empenhado nesse mês é do livro As meninas, da escritora Lygia Fagundes Telles. A obra é a escolha do mês do projeto As Bastardas (http://asbastardas.blogspot.com.br/) com propósito de subsidiar as discussões no mês de abril. Aqui estão reunidos meus primeiros apontamentos sobre a obra:

01 - Pequeno resumo: a obra trata da vida de três moças que moram em um convento, em regime de pensionato. São três personagens com personalidades distintas, bem como as suas histórias de vida.

02 - O ritmo da narrativa é um pouco complicado de acompanhar, pois é narrado com alternâncias dos pontos de vista de cada uma das protagonistas, mudando de uma para a outra de forma abrupta no inicio do livro (se não é isso me desculpem e me avisem: terei de ler o inicio de novo). As partes da narrativa que cabem à Ana Clara são, na minha opinião, as mais complicadas para ler.

03 - A proposta da leitura do projeto/blog é discutir literatura feminista, estou no meio do livro e começo a me questionar sobre os pontos que mais claramente revelam atos/ações que levem a alguma discussão sobre o tema.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Aleatórios 10 - As vinhas da ira - John Steinbeck


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

O que dizer de um livro que fala com simplicidade e beleza sobre um dos maiores dramas que uma família pode passar: a fome. E além da fome, perder sua casa. E não apenas isso, Steinbeck consegue fazer um livro sobre cultura, relações pessoais, relações familiares, prisão, economia, situação dos trabalhadores do campo.

Mesmo um tempo depois de ler este livro, fazendo a retrospectiva das minhas leituras no ano de 2015,  até agora não me saem da cabeça todas as aflições da família Joad.

Migrantes, desde sua saída do Oklahoma até sua chegada na Califórnia, os Joad tem sua narrativa de viagem impregnada de uma transformação social, abordada desde a mudança na relação marido/mulher, que, por consequência, irá afetar o destino da família (aliás, encontramos nessa relação algum ponto de ameaça de violência doméstica como se isso fosse natural)...tão triste, tão humano.

As crianças que passam fome, e em meio a isso ainda conseguem abstrair a dor de um estômago vazio e se refugiar em fantasias de criança.

A situação daqueles que não conseguem se ajustar à própria família. O Pastor, que perdeu a fé em Deus. Todos eles ali, em um caminhão velho, em busca de uma vida, que, esperam eles, será melhor.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Aleatórios 9 - Charlotte Bronte - O segredo e Lili Hart


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

Acabo de finalizar a leitura de dois contos da Charlotte Bronte, chamados O Segredo & Lili Hart. Este é o meu segundo contato com a obra da autora, sendo que o primeiro se deu por meio do filme Jane Eyre, e apesar de possuir o título de Jane Eyre na minha lista de leitura, optei por começar por estes dois contos buscando, na medida do possível entender o processo criativo da autora.
 A edição escolhida é um exemplar publicado pela Editora Nova Fronteira no ano de 1993, com tradução de Maria Ignez Duque Estrada.  A edição original foi transcrita dos manuscritos originais de Charlotte por William Holtz. O exemplar conta ainda com prefácio, posfácio e notas, todos de importância, e sem dúvida o posfácio é de grande ajuda para compreender como se deu a composição das histórias do Reino de Vidro e de seus personagens.
Segundo diz William, a história e criação do reino acontecem quando o pai de Charlotte presenteia seu filho Brandwell com 12 soldadinhos de madeira. As crianças Bronte, encantadas com o presente, “adotam” os soldadinhos e lhes dão nomes, e criam para eles histórias, cuidadosamente escritas em manuscritos de folhas dobradas para parecerem livros.  Realmente as crianças Bronte tinham uma imaginação além da conta, e um afinco para fazer render essa imaginação que também não me parece ser comum aos pequenos nessa idade.
Desenvolvem-se então diversos contos sobre o reino em questão, e como teriam vivido aqueles soldadinhos, quais as relações entre eles até entre seus descendentes.  Confesso que só no final de Lili Hart eu percebi que um dos personagens era o mesmo personagem que estava no conto O Segredo.
Conforme informa o prefácio, os dois textos foram extraídos de um mesmo manuscrito, e O Segredo começa na página 3 do referido, enquanto Lili Hart começa na metade da página 11. Não entendi realmente o  motivo pelo qual Charlotte colocou  Lili Hart em segundo quando, pela ordem cronológica dos acontecimentos do reino, a história de nome Lili Hart acontece muito antes de acontecer os fatos ocorridos em O Segredo. Talvez, e tomo isso realmente como talvez, ela tenha começado a passar a limpo a história O Segredo, e percebeu que sobrariam folhas, então, visando economizar papel, passou a limpo outra história de outro lugar. Mas isso são apenas conjecturas de alguém que aprende agora a lidar com a narrativa de uma clássica escritora britânica e toda a sua genialidade.


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Aleatórios 8 - Emily Bronte - O morro dos ventos uivantes.


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

Notas sobre a leitura de O Morro dos Ventos Uivantes.
1- Tendo sido o primeiro livro que leio desde que terminei a leitura da obra de Jane Austen, o clássico livro de Emily Bronte foi desafiador, não tanto pela escrita da autora, mas pela forma como passamos pelos acontecimentos na vida dos personagens.
2- Enquanto nos livros de Jane Austen podemos observar personagens com qualidades e com defeitos de diversos tipos, na sua narrativa sempre tempos a perspectiva de que os personagens dotados de qualidades sempre tem um final e um desenrolar da história menos dado às paixões. Enquanto os personagens de E. B. são o retrato do oposto: vemos uma família onde a indulgência com o comportamento das crianças e a falta de limites criados entre eles levam a família a uma terrível degradação moral, a qual se sucede também uma degradação física. A única personagem sensata encontrada no livro todo, é Nelly Dean. Dos outros, não podemos ver nada além de vaidades.
3- No aspecto de descrição dos cenários, mesmo os que relatam a primavera e alguns dias de sol, parecem frios, e é quase possível sentir o vento gelado e a umidade por nossos corpos, as palavras de E. B. são quase sinestésicas.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

LOSO - A redoma de vidro

[Para saber mais sobre a LOSO, clique aqui]






Esta é uma leitura retrospectiva. O livro foi lido lá pelos idos de 2016. Ele me acompanhou em viagem ao Rio de Janeiro quando participei do curso de formação em Biblioterapia da Cristiana Seixas. Naquela época, o enfoque dos textos do blog era outro, eu ainda estava em busca de um método de leitura e não conhecia ainda o livro da Nice Menezes de Figueiredo que me salvou nesse ponto. Em um post relatando as minhas férias daquela época, eu disse que comentaria a leitura de Quarto, da Emma Donoghue e de A redoma de vidro, da Sylvia Plath. 

A resenha sobre Quarto saiu em janeiro de 2017 e foi o último post daquela temporada. A culpa eu coloquei sobre o livro de Sylvia. Eu tentei, naquela época, de todas as formas que imaginei possíveis, compreender e falar sobre A redoma de vidro. Tudo parecia insuficiente, e depois de escrito, a releitura me deixava sempre com dúvidas: estaria eu sendo injusta com a obra e a autora?

O fato é que depois do contato com essa obra, eu e o blog entramos em um momento sabático. E agora que estamos retornando, acredito que nada mais justo que falar sobre ela para inaugurar mais uma rodada de posts sobre o Setembro Amarelo.

Mas vamos à história de Esther, a personagem principal de A Redoma de Vidro, que narra sua jornada de adoecimento a partir do momento em que vence um concurso e consegue o "emprego dos sonhos" para uma garota nos Estados Unidos da década de 60.

O assunto principal são as memórias de Esther, narradas por ela mesma em primeira pessoa. Logo, as memórias tratam do seu adoecimento, e podemos dizer  que são vários os assuntos abordados: depressão, suicídio, luto, relação mãe e filha, saudades do pai, relacionamentos com namorados, as expectativas para a vida de uma mulher naquela época...

A narrativa é realista e pode ser lida sem grandes esforços pelo leitor comum. A metáfora da redoma de vidro para descrever o estado da mente da pessoa depressiva é talvez uma das mais belas e eficientes de todas aquelas que eu já encontrei. Para o quesito de compreensão da natureza humana, algo que a biblioterapia pode e deve tratar, eu recomendaria este livro a pessoas que convivem diariamente com alguém depressivo mas que  não conseguem compreender o que se passa com aquele alguém.  

O livro pode ser encarado de forma provocadora de pensamentos, sensibilizando as pessoas que não conseguem compreender o adoecimento da mente e despertando empatia por outros que passam por esse problema. É uma leitura sensibilizante, porém tenho minhas reservas para dizer que pode ser uma leitura de fruição e eu imagino que quem quer trabalhar com essa obra deva considerar o estado que se encontra o leitor, pois ao invés de aproveitar a leitura, ele pode se sentir até mesmo penalizado por ela.

Alguns sintomas da depressão são expressos por Sylvia de uma forma muito leve e bonita, como na passagem abaixo, em que a personagem Esther narra o conflito interno de se perceber incapaz de conseguir manter o ritmo de vida que tinha imposto a si mesma por um longo período de tempo. 

"...eu estava me sentindo bem deprimida. Tinha sido desmascarada naquela manhã pela própria Jota Cê e agora sentia que todas as suspeitas desconfortáveis que eu sempre tivera a respeito de mim mesma estavam virando realidade, e eu não conseguiria esconder a verdade por muito mais tempo. Depois de dezenove anos lutando por boas notas, prêmios e bolsas, eu estava me deixando vencer, diminuindo o ritmo, caindo fora da corrida" (p. 36)

Ou logo adiante, ainda no mesmo capítulo, quando descreve o sentimento de impotência que faz com que a pessoa que sofre de depressão não consiga ter energia, nem sentir qualquer tipo de ânimo para fazer nada:

 "... fiquei me perguntando por que eu não conseguia mais cumprir as minhas obrigações até o fim. Isso me deixou triste e cansada. Então eu me perguntei por que eu também não conseguia deixar de cumprir minhas obrigações até o fim, do jeito que  Doreen fazia, e isso me deixou mais triste e cansada ainda" (p. 37)


Uma passagem que eu achei particularmente encantadora, Esther ganha de presente um livro. Arrisco-me a dizer, que a personagem sentiu uma possibilidade de fuga, um alívio, por um momento, dos sentimentos que a depressão provoca. Parece-me a biblioterapia dentro de um livro para biblioterapia. 

"Achei a história adorável, principalmente a parte que descrevia a figueira cheia de neve durante o inverno, e depois, na primavera, cheia de frutas verdes. Foi triste chegar à página final. Eu queria me enfiar entre aquelas linhas impressas do jeito que a gente atravessa uma cerca e ir dormir debaixo daquela linda e imensa figueira" (p. 64)

Quanto descanso podemos encontrar nas linhas de um livro? Como ele pode nos tocar de forma tão profunda, e nos mobilizar mesmo que seja para a fuga. Alguns dirão que o sentimento de fuga é prejudicial, mas percebam: Esther queria fugir da doença para a vida. Há algo de absolutamente encantador na figura das árvores. Elas criam raízes profundas, se alimentam de água e terra e dão de comer a bichos, homens e pássaros. Seus galhos oferecem sombra aos caminhantes, e também abrigo aos pássaros para que construam seus ninhos. Esther queria fugir para aquele livro, mas sobretudo, parece-me que ela queria fugir para um estado de vida mais saudável e conectado com seus próprios ritmos interiores.