terça-feira, 6 de setembro de 2016

Setembro Amarelo - Vamos falar sobre Anna Kariênina?




No dia 29/08, uma família foi encontrada morta em um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A suspeita é que o marido/pai, tenha matado esposa e filhos e depois tirado a própria vida
A tragédia, antecedeu por poucos dias o início de setembro, mês escolhido para falar sobre o suicídio. O Setembro Amarelo é iniciativa do CVV (Centro de Valorização da Vida), do CFM (Conselho Federal de Medicina) e da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). O trabalho com a prevenção do suicídio acontece principalmente desmistificando esse que é um tabu e ajudando pessoas a reconhecer que alguém próximo a elas pode estar pensando em cometer suicídio. O site oficial da campanha pode ser acessado aqui.

Aqui no blog, aproveitamos esse mês importante para desmistificar o tabu sobre um problema tão sério para falar um pouco sobre o suicídio na literatura. Apresentaremos algumas obras interessantes que tratam do suicídio e elencaremos algumas de suas características em comum, no final do mês.

A primeira obra apresentada, e talvez a mais emblemática para quem a escreve, pois a qualidade do texto é inquestionável é Anna Kariênina (ou Ana Karenina, ou Anna Karenina, depende da tradução. Aqui, utilizamos a edição da Cosac Naif como referência). 


Esse clássico da literatura trata, em linhas gerais, das histórias de vida de dois personagens, Anna Kariênina e Liévin, que se encontram apenas uma vez em todo o livro. Mas o foco e o título do livro recaem sobre Anna e não poderia deixar de ser, adianto, sem medo de dar spoiler, que Anna tira a própria vida no final do livro.

Anna, uma mulher casada da sociedade russa, se apaixona por um rapaz mais jovem e decide deixar o marido para viver com ele. O marido se nega a dar-lhe o divórcio. Não sendo casada com o jovem , chamado Vronski, Anna começa a sofrer o isolamento da sociedade, não sendo mais admitida nos salões, nem recebendo visitas de seus amigos.

A maternidade em Anna é questionada. Do primeiro filho, que teve com o marido, Anna não consegue esquecer e sofre por sua ausência. A segunda gestação não lhe traz a mesma alegria, e Anna não se conecta nem demonstra afeição alguma com a filha que tem com aquele homem que ela trata como o grande amor de sua vida. 

Ao final do livro, Anna Karenina sofre de um isolamento insuportável, e em uma última visita que ela faz a sua cunhada Dolly, vemos uma Anna de voz presa, que não desabafa pois naquele momento algumas coisas são simplesmente indizíveis: falar é confessar o fracasso de um grande amor. 

Sentindo que a vida saiu de suas mãos e que não há mais solução para seus medos, tomada por um ciúme doentio que sentia do companheiro (este ainda aceito em sociedade, e portanto, não sofrendo e não compreendendo o isolamento de sua companheira), e por uma saudade dilaceradora do primogênito, Anna resolve que o fim de tudo seria nas rodas de uma locomotiva. E assim o faz. 

A idéia do suicídio na cabeça de Anna tem uma dupla função: acabar com seu próprio sofrimento e ao mesmo tempo, fazer com que seu companheiro Vronski fosse tomado pela dor do remorso. Anna acredita ser  negligenciada por ele, uma vez que sacrificou a sua vida para estar com ele. É uma ideia recorrente na literatura, e vamos nos encontrar com ela ainda mais uma vez até o fim do mês, ao falar sobre Emma Bovary.

O fato que mais se destaca, para mim, nesse momento, é que Anna Kariênina pode nos mostrar como esperar que a felicidade, em nossas vidas, chegue ou por meio de um grande acontecimento ou da existência de uma outra pessoa pode ser uma grande cilada. A vida, como Tolstói parece nos dizer nesse livro, deve ser vivida buscando um equilíbrio, não um ápice, pois esse ápice é algo que nunca encontraremos.

Um grande abraço e até logo!

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