terça-feira, 2 de outubro de 2018

LOSO - Quarto de Despejo



Este post que escrevo agora deveria ter sido publicado em setembro, como uma forma de fazer parte da campanha do setembro amarelo. O que aconteceu foi que eu não consegui escrever o que eu queria, da forma como eu queria ou imaginava que queria. Pretendo fazer um post com um balanço do LOSO,  enquanto ferramenta para análise de textos. Ele é um bom guia para ser produtivo, mas senti que meus textos estavam ficando superficiais demais. 




Esse é o primeiro texto na categoria não ficção que será analisado.  Quarto de Despejo foi lançado em 1960. Trata-se de uma mistura de diário com autobiografia, escrito por Carolina Maria de Jesus, uma mulher, negra, mineira da cidade de Sacramento, moradora da favela do Canindé em São Paulo. Mãe solteira de três crianças, catadora de lixo. 

O traço mais marcante do texto, é a combinação entre a inadequação à norma culta da língua portuguesa (compreensível uma vez que considera-se a baixa escolaridade da autora, que frequentou a escola somente até o segundo ano do ensino primário) e a adequação do conteúdo ao momento social e político dos moradores da favela e da cidade de São Paulo . 

Carolina compõe um texto que pode ser lido de muitas formas: a preocupação da mãe com a subsistência dos filhos, a preocupação da cidadã com o futuro político do país, a olhar da vizinha Carolina sobre o cotidiano da favela. Fome, política, futebol, o amor aos livros, a rotina de dona de casa na favela, tudo isso passa como fios narrativos de uma existência que poucos imaginariam tão rica e diversa.

Em tempos onde o preconceito tem descaradamente dado as caras, onde conclamamos a todos que se escondiam para saírem do armário e agora imploramos em orações e hashtags que fascistas, xenófobos e preconceituosos de qualquer natureza sejam abduzidos de nosso cotidiano ou voltem para o armário que lhes cabe, penso que Quarto de Despejo seja um livro para sensibilizar e humanizar o outro e a nós mesmos. Carolina merece ser lembrada com lugar de destaque por sua coragem e resiliência, mas quem se dispuser a ter simpatia pelo humano Carolina e não pelo quase-mito Carolina encontrará uma pessoa que lhe fará compreender que um rótulo não nos define, e que também um rótulo não pode definir o outro, ou corremos o risco de nos tornar quem nós criticamos, corremos o risco de ser os algozes de nossos algozes... 

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Aleatórios 11 - Notas sobre - As meninas, Lygia Fagundes Telles


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

A leitura na qual tenho me empenhado nesse mês é do livro As meninas, da escritora Lygia Fagundes Telles. A obra é a escolha do mês do projeto As Bastardas (http://asbastardas.blogspot.com.br/) com propósito de subsidiar as discussões no mês de abril. Aqui estão reunidos meus primeiros apontamentos sobre a obra:

01 - Pequeno resumo: a obra trata da vida de três moças que moram em um convento, em regime de pensionato. São três personagens com personalidades distintas, bem como as suas histórias de vida.

02 - O ritmo da narrativa é um pouco complicado de acompanhar, pois é narrado com alternâncias dos pontos de vista de cada uma das protagonistas, mudando de uma para a outra de forma abrupta no inicio do livro (se não é isso me desculpem e me avisem: terei de ler o inicio de novo). As partes da narrativa que cabem à Ana Clara são, na minha opinião, as mais complicadas para ler.

03 - A proposta da leitura do projeto/blog é discutir literatura feminista, estou no meio do livro e começo a me questionar sobre os pontos que mais claramente revelam atos/ações que levem a alguma discussão sobre o tema.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Aleatórios 10 - As vinhas da ira - John Steinbeck


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

O que dizer de um livro que fala com simplicidade e beleza sobre um dos maiores dramas que uma família pode passar: a fome. E além da fome, perder sua casa. E não apenas isso, Steinbeck consegue fazer um livro sobre cultura, relações pessoais, relações familiares, prisão, economia, situação dos trabalhadores do campo.

Mesmo um tempo depois de ler este livro, fazendo a retrospectiva das minhas leituras no ano de 2015,  até agora não me saem da cabeça todas as aflições da família Joad.

Migrantes, desde sua saída do Oklahoma até sua chegada na Califórnia, os Joad tem sua narrativa de viagem impregnada de uma transformação social, abordada desde a mudança na relação marido/mulher, que, por consequência, irá afetar o destino da família (aliás, encontramos nessa relação algum ponto de ameaça de violência doméstica como se isso fosse natural)...tão triste, tão humano.

As crianças que passam fome, e em meio a isso ainda conseguem abstrair a dor de um estômago vazio e se refugiar em fantasias de criança.

A situação daqueles que não conseguem se ajustar à própria família. O Pastor, que perdeu a fé em Deus. Todos eles ali, em um caminhão velho, em busca de uma vida, que, esperam eles, será melhor.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Aleatórios 9 - Charlotte Bronte - O segredo e Lili Hart


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

Acabo de finalizar a leitura de dois contos da Charlotte Bronte, chamados O Segredo & Lili Hart. Este é o meu segundo contato com a obra da autora, sendo que o primeiro se deu por meio do filme Jane Eyre, e apesar de possuir o título de Jane Eyre na minha lista de leitura, optei por começar por estes dois contos buscando, na medida do possível entender o processo criativo da autora.
 A edição escolhida é um exemplar publicado pela Editora Nova Fronteira no ano de 1993, com tradução de Maria Ignez Duque Estrada.  A edição original foi transcrita dos manuscritos originais de Charlotte por William Holtz. O exemplar conta ainda com prefácio, posfácio e notas, todos de importância, e sem dúvida o posfácio é de grande ajuda para compreender como se deu a composição das histórias do Reino de Vidro e de seus personagens.
Segundo diz William, a história e criação do reino acontecem quando o pai de Charlotte presenteia seu filho Brandwell com 12 soldadinhos de madeira. As crianças Bronte, encantadas com o presente, “adotam” os soldadinhos e lhes dão nomes, e criam para eles histórias, cuidadosamente escritas em manuscritos de folhas dobradas para parecerem livros.  Realmente as crianças Bronte tinham uma imaginação além da conta, e um afinco para fazer render essa imaginação que também não me parece ser comum aos pequenos nessa idade.
Desenvolvem-se então diversos contos sobre o reino em questão, e como teriam vivido aqueles soldadinhos, quais as relações entre eles até entre seus descendentes.  Confesso que só no final de Lili Hart eu percebi que um dos personagens era o mesmo personagem que estava no conto O Segredo.
Conforme informa o prefácio, os dois textos foram extraídos de um mesmo manuscrito, e O Segredo começa na página 3 do referido, enquanto Lili Hart começa na metade da página 11. Não entendi realmente o  motivo pelo qual Charlotte colocou  Lili Hart em segundo quando, pela ordem cronológica dos acontecimentos do reino, a história de nome Lili Hart acontece muito antes de acontecer os fatos ocorridos em O Segredo. Talvez, e tomo isso realmente como talvez, ela tenha começado a passar a limpo a história O Segredo, e percebeu que sobrariam folhas, então, visando economizar papel, passou a limpo outra história de outro lugar. Mas isso são apenas conjecturas de alguém que aprende agora a lidar com a narrativa de uma clássica escritora britânica e toda a sua genialidade.


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Aleatórios 8 - Emily Bronte - O morro dos ventos uivantes.


[Este texto foi publicado inicialmente em outro blog que eu mantinha. Queria deletar o blog sem perder o conteúdo, então migrei os textos dele para o Sessão de Biblioterapia]

Notas sobre a leitura de O Morro dos Ventos Uivantes.
1- Tendo sido o primeiro livro que leio desde que terminei a leitura da obra de Jane Austen, o clássico livro de Emily Bronte foi desafiador, não tanto pela escrita da autora, mas pela forma como passamos pelos acontecimentos na vida dos personagens.
2- Enquanto nos livros de Jane Austen podemos observar personagens com qualidades e com defeitos de diversos tipos, na sua narrativa sempre tempos a perspectiva de que os personagens dotados de qualidades sempre tem um final e um desenrolar da história menos dado às paixões. Enquanto os personagens de E. B. são o retrato do oposto: vemos uma família onde a indulgência com o comportamento das crianças e a falta de limites criados entre eles levam a família a uma terrível degradação moral, a qual se sucede também uma degradação física. A única personagem sensata encontrada no livro todo, é Nelly Dean. Dos outros, não podemos ver nada além de vaidades.
3- No aspecto de descrição dos cenários, mesmo os que relatam a primavera e alguns dias de sol, parecem frios, e é quase possível sentir o vento gelado e a umidade por nossos corpos, as palavras de E. B. são quase sinestésicas.