terça-feira, 31 de julho de 2018

Mediador, Biblioterapeuta ou Aplicador de Biblioterapia: notas sobre a importância do nome.

As bibliotecárias anônimas entrevistadas pela Mariana Guedes em sua dissertação, com quem mais me identifiquei (BB, BF e BG), não são unânimes na escolha do nome pelo qual o profissional bibliotecário capacitado a trabalhar com biblioterapia deva ser chamado. Vejamos o que dizem elas:

"Utilizo sempre o termo Aplicador de biblioterapia. Biblioterapeuta é o psicólogo. Mediador da informação me parece muito técnico, não condizente com o caráter lúdico da biblioterapia" (Bibliotecária B)

"A biblioterapia não se configura como leitura de autoajuda e muito menos como contação de história, muito pelo contrário, é uma terapia, portanto, o profissional que atua nessa área tanto pode ser chamado de terapeuta ou biblioterapeuta" (Bibliotecária F)

"No meu ponto de vista, qualquer termo pode ser utilizado, acho de menor importância, tal preocupação. Todavia, nas instituições onde atuo, ou atuei, os membros da equipe sempre foram chamados de biblioterapeutas. Particularmente, prefiro chamar aqueles que trabalham com a biblioterapia de mediadores da informação, porque fazem da leitura uma ponte entre a informação e o conhecimento, a fim de ajudar as pessoas a conquistarem sua cidadania. São pessoas que trabalham em prol da dignidade da pessoa humana, dentre eles o bibliotecário, que nessa função deve cumprir um programa de leitura compatível com a vida da pessoa a ser ajudada. Deve, portanto, investigar seus interesses, acompanhar a leitura e fazer uma discussão posterior para chegar o resultado". (Bibliotecária G) 

Concordo um pouco e discordo com todas elas. Gostaria agora de analisar o motivo, pois a escolha de um nome profissional pelo qual você se define reflete diretamente no que as pessoas esperam de você. Nesse caso, gosto muito da palavra biblioterapeuta, mas ela sempre me vem à memória como algo associado à terapia clínica (seja ela feita com um psicanalista, um psicólogo ou psiquiatra). Ouso aqui fazer uma afirmação generalista, mas corre-se o risco de que o cliente de biblioterapia procure o profissional para tentar fugir de um tratamento clínico convencional, dados os estigmas que estes carregam junto a si. A biblioterapia pode ser usada por todos esses profissionais, mas nunca será uma substituta deles.  

Mediadores de informação parece um nome muito frio, apesar de que a definição dada pela bibliotecária G é a que faz meu coração bater mais forte.  Pensar um bibliotecário como um profissional que trabalha em prol da dignidade humana para mim resgata o caráter humano do próprio profissional e aproxima ele da dimensão educativa da profissão e da dimensão educativa da biblioteca, viabilizando ferramentas para que os indivíduos possam encarar os processos de mudança internos e externos.

Caso eu possa aqui fazer uma colagem das falas selecionadas para justificar minha escolha, ficaria assim "A biblioterapia não se configura como leitura de autoajuda e muito menos como contação de história. O bibliotecário nessa função deve cumprir um programa de leitura compatível com a vida da pessoa a ser ajudada. Deve, portanto, investigar seus interesses, acompanhar a leitura e fazer uma discussão posterior para chegar o resultado. Utilizo sempre o termo Aplicador de biblioterapia. (Bibliotecárias FGB).

Acredito que seria melhor esclarecido se adotássemos a idéia de que biblioterapia é uma técnica que muitos profissionais podem usar em diversos ambientes. Para mim, seria muito melhor pensar em:

  • Bibliotecário aplicador de biblioterapia;
  • Psicólogo aplicador de biblioterapia;
  • Professor aplicador de biblioterapia;
  • Psicanalista aplicador de biblioterapia;
  • Psiquiatra aplicador de biblioterapia;
  • Assistente social aplicador de biblioterapia.

E assim cada profissional deverá adaptar as ferramentas da biblioterapia à sua prática. Uma sala de aula tem suas particularidades que a diferem da biblioteca (pensando na interação dos indivíduos. Assim como o hospital e o consultório são ambientes da área da saúde mas possuem configurações completamente diferentes. Há ainda as sessões de biblioterapia em prisões, grupos de ajuda, entre outros.

Cada local tem sua particularidade (regras de funcionamento), nos hospitais, por exemplo, há alas em que não se pode fazer trabalhos com grupos (rodas de leitura), devendo a biblioterapia ser aplicada individualmente, no leito do paciente.

Cada público tem sua especificidade: em uma sala de aula todos os alunos tem um nível de alfabetização parecido, enquanto na enfermaria de um hospital isso não pode ser controlado. Nas prisões, a leitura pode ser usada como meio de alcance da cidadania e também para a diminuição da pena.

Cada profissional conhece bem o seu público e deverá organizar seus conhecimentos em biblioterapia de acordo com eles. Nesse sentido, acredito que não é desejável uma formação uniformizadora do biblioterapeuta, pois é na diversidade que a biblioterapia cresce e atinge os diversos tipos de leitores. Entretanto, acredito que há de surgir alguma entidade que regulamente e organize a prática, evitando desentendimentos entre os diversos profissionais, para que uns e outros não ultrapassem as fronteiras legais de cada profissão.  

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Boas notícias: estão todos bem!

Duas coisas que são boas separadas e ficam ainda melhores juntas: cinema e literatura! E dia desses, aqui no Cinema e Psicanálise de Franca, eu conheci o filme "Estão todos bem".



Uma delícia de filme, a história de um pai que dedicou-se ao trabalho para dar uma boa qualidade de vida aos filhos.  No momento de vida do filme, este pai agora viúvo e aposentado se vê, sem a grande conexão que o unia aos filhos: sua esposa. Era ela que falava com os filhos e compartilhava com ele as notícias. Em busca de se aproximar dos filhos e  restabelecer as conexões perdidas, ele parte em uma jornada pelo país, visitando a cidade e a casa de cada um dos filhos. Nesse caminho, descobre que a vida que ele imaginava que os filhos tinham era uma grande ficção, construída sobre pilares de amenizações e omissões feitas por sua bem intencionada esposa, com o objetivo de não lhe causar nenhuma decepção. A esposa, não conhecemos, não há sequer uma fotografia sua em todo o filme.




Mas eis que quem ama literatura nunca deixa as histórias sozinhas e abandonadas em um canto, e assim, remexendo com as minhas memórias inquietas de quem já tinha visto em outro lugar um algo ao menos parecido com aquilo, me lembrei de um livro da Maria Valéria Rezende... o único que li dela. Boas notícias, um dos capítulos narrados em Vasto Mundo é um conto sobre a professora Zefinha Lima, moradora do sítio Ventania, que depois de emprestar pela primeira vez  a sua voz e sua arte de recontar a vida, mesmo tocada pela culpa do pecado, determinou-se a mentir pelo bem. "As boas mentiras brotavam-lhe fáceis e convincentes, na ponta da língua". Foi assim que um atropelamento se tornou uma queda de bicicleta, e num assassinato a tiros  o morto desencarnou no leito do hospital, abençoado por um padre... "Era bom fazer um mundo melhor e aos poucos passou a viver como se o que inventava fosse a verdade,,,"

E que minha mente voa é fato conhecido, e eu tentando imaginar se e como Ana Batista, Francisco Bento, Severina Araújo, Olindina e tantos outros que receberam cartas, lidas por Zefinha, descobriram que suas verdades eram mentiras para o bem. E se, assim como o personagem do pai, no filme, eles também buscaram alguma forma de por o passado a limpo. Se aquele pai pode pegar um trem e ir de cidade em cidade, que terá sido feito de um povo analfabeto que mora do sertão do nordeste brasileiro, e mal tem dinheiro para sobreviver?
  
E vou concluindo que em duas obras completamente diferentes temos um panorama bonito sobre a verdade: as dores de quem teima em não dize-la e as consequências para quem prefere não ouvi-las. Outra coisa bonita que vejo, mas agora mais na história da Maria Valéria: a importância da alfabetização e da leitura na vida das pessoas! Já dizia um famoso meme da internet: Viver sem ler é muito perigoso, te obriga a acreditar no que te dizem... 

terça-feira, 24 de julho de 2018

Mediação da Informação 3 - Leitura Orientada à Seleção de Obras (LOSO)


Retomando as anotações sobre mediação da informação, tentarei hoje falar das minhas dificuldades com aquela que deveria ser a maior facilidade de um bibliotecário: "a biblioterapia como mediação da informação é reconhecida no trabalho de profissionais que selecionam materiais informacionais adequados para disseminar informações para pessoas com determinadas necessidades" (GUEDES; BATISTA, 2013, p. 244, grifo nosso). A questão da seleção das obras empregadas em uma sessão de biblioterapia foi a primeira que ocupou a minha mente quando comecei a estudar o assunto. Apesar de compreender globalmente a ideia de que os livros dialogam com as pessoas, eu não conseguia conceber como uma obra que se enquadraria nos problemas ou preocupações de um alguém específico.

E lá estava eu, em pleno final do ano de 2016, tentando encontrar um norte para fazer outra coisa, quando fiz um empréstimo da obra da Nice Menezes de Figueiredo. Fazendo a leitura esquemática do livro, notei que apareceram questões sobre os livros que envolviam o conteúdo deles e não somente as listas de indicações e as estatísticas de uso tão comuns em biblioteconomia. Na hora não tive tempo de aprofundar a leitura, mas intuitivamente, soube que aquele texto seria útil para o blog.

Dois anos depois, agora que retomando a escrita do meu aprendizado,  fazendo algumas organizações em minhas pastas de arquivos sobre biblioterapia, encontrei novamente aquele capítulo 1 e  dessa vez eu liguei minha luminária, peguei um marcador colorido e mergulhei no texto.

Não posso afirmar que essa foi a primeira vez que essas orientações apareceram na literatura brasileira sobre seleção de obras, mas posso certamente afirmar que foi a primeira vez que encontrei -me com elas. Chamadas de testes para não ficção e para ficção, elas são algumas perguntas que você pode fazer às obras. A proposta de Figueiredo-Haines (não foi possível para mim determinar o que é tradução e o que é adaptação nesse texto) era desenvolver ferramentas para orientar os bibliotecários de bibliotecas públicas na seleção de obras para um tipo de acervo abrangente em assuntos, visando atender uma comunidade diversa, tanto em nível de leitura quanto em preferências para leitura. 

Posso afirmar que, até hoje, não encontrei na literatura específica de biblioterapia (que não é muito vasta), nenhuma indicação de como escolher ou como identificar o potencial de um livro. Nesse sentido, a forma como a autora, fala do papel do bibliotecário para a biblioteca pública, despertou minha atenção para os muitos pontos de identificação com o papel do bibliotecário aplicador de biblioterapia, portanto, não somente os testes, mas toda a ideia do benefício da leitura para o indivíduo me fizeram querer explorar aquilo que ela propõe.

Os testes para não ficção e para ficção abrangem tópicos como:  assunto, autoridade, qualidades, características físicas e valores para o leitor, e testes para ficção. Considerando que esse blog é um relato de aprendizagem e pesquisa, e não tem compromissos nem vínculos com nenhum trabalho acadêmico, tomei a liberdade de selecionar apenas alguns tópicos do testes para as minhas primeiras leituras orientadas à seleção de obras. Assim ficou meu roteiro:   

Assunto:

  • Qual é o assunto ou tema?
  • São cobertos assuntos adicionais?
  • É popular? Erudito? É para o leitor comum?


Valores para o leitor

  • Informação
  • Contribuição para a cultura?
  • Estímulo para os interesses?
  • Recreação ou entretenimento?
  • Que leituras relacionadas oferece?
  • A que tipo de leitura atraí?


Ficção

  • É real? Sensacionalista? Exagerado? Distorcido?
  • Tem vitalidade e consistência na descrição dos personagens? Psicologia válida? Compreensão da natureza humana?
  • É o enredo original? Vulgar? Possível? Simplório? Emaranhado?
  • É o interesse dramático mantido?
  • É estimulante? Provoca pensamentos? Satisfaz? Inspira? Diverte?

Esta fase durará até novembro ou dezembro desse ano (2018), quando pretendo fazer um balanço para saber se os testes são ou não adequados ao objetivo. Tentarei utilizar o mesmo para novelas, contos e poesia, mas considerando que esse é um blog sobre tentativas, eu avisarei quando isso não der certo com algum texto e procurarei outros modos de avaliar a potência terapêutica de cada um.
________________________________________________________________________________

Bibliografia:

FIGUEIREDO, Nice Menezes de. Desenvolvimento e avaliação de coleções. Rio de Janeiro: Rabiskus, 1993. 184 p. (Cap. Seleção de Livros, p. 9-50).

GUEDES, Marina Giubertti; BATISTA, Sofia Galvão. Biblioterapia na Ciência da Informação: comunicação e mediação. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 18, n. 36, jan-abr, 2013, p. 231-253.


sexta-feira, 20 de julho de 2018

Aleoatórios 3 - Clube de leitura Letras & Sonhos



Sábado, dia 14/07/2018, foi dia de reunião com as meninas do Letras e Sonhos. O livro do mês foi "A menina submersa", de Catlín R. Kiernan. Narrativa em primeira pessoa surpreendente, e ouvir as meninas do grupo ampliou ainda mais meu olhar.  Mais detalhes em agosto. :)





terça-feira, 17 de julho de 2018

Mediação da Informação 2

[Continuando]

Lendo o trabalho da Mariana Guedes, a minha concepção de mediação implícita da informação se alargou, e isso graças às entrevistas estruturadas que ela fez com bibliotecárias que aplicam e pesquisam biblioterapia no Brasil.   

Penso, agora, que a mediação implícita da informação pode também ser vista nas seguintes atividades:

  • Estudo de usuários;
  • Planejamento e organização das atividades;
  • Seleção de obras a serem empregadas;
  • Averiguação das respostas por parte dos pacientes/clientes.
A autora da dissertação pontuou que a pesquisa dela era sobre o papel do bibliotecário quanto a mediador da informação e não mediação da leitura. Acho que aqui posso fazer uma suposição de que a mediação da leitura seria a mediação explícita da informação. Aqui é o ponto em que sinto maior dificuldade de situar o bibliotecário sozinho como "aplicador de biblioterapia". Vejamos as possibilidades apreendidas até aqui:

  • Biblioterapia individual: parece mais adequada quando aplicada por profissionais de saúde em seus consultórios. Psicólogos e psicanalistas, por exemplo.
  • Biblioterapia em grupo: clubes de leitura, rodas de leitura. 
Se antes o nó em minha cabeça era sobre a seleção das obras, a ele se juntaram mais dois: como fazer um estudo de usuários eficiente para os casos em que a biblioterapia for uma proposta de intervenção e como realizar o próprio processo de mediação da leitura?

Perguntas para as quais ainda não encontrei respostas, mas sigo tentando...  
 

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Aleatórios 2 - A biblioterapêuta F.

Acredito com fé que quando encontramos pessoas com as quais temos alguma afinidade de pensamento, devemos nos aproximar delas e trocar algumas figurinhas com a finalidade de enriquecimento mútuo das partes.

Lendo a dissertação da Marina Guedes, encontrei três pessoas, mas que por via das circunstâncias eu não sei quem são. Explico: a autora, para preservar a identidade das entrevistadas, trocou o nome delas por letras. 

Deixo registrada aqui uma fala que me inquietou e me levou a pensar sobre a capacitação e a educação continuada de um bibliotecário:

"O motivo que me levou a implementar as sessões de biblioterapia foi devido a perceber que muitas pessoas enfrentam conflitos, de toda natureza e perceber que podemos contribuir para a melhora desses conflitos, desde que tenhamos competência para tal. Então, busquei parcerias com psicólogos e terapeutas para poder realizar essas sessões" (Bibliotecária F)   

terça-feira, 10 de julho de 2018

Mediação da Informação 1


A pesquisa sobre a seleção de obras para a aplicação da biblioterapia me levou a trilhar alguns caminhos novos, outros já conhecidos. Sobre os novos não quero falar agora, vou guardar para mim enquanto amadureço as ideias colhidas ao longo deles.

Dos caminhos já conhecidos, porém dessa vez trilhados a esmo, recolhi na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do IBICT ( clique aqui para o link) algumas dissertações e teses defendidas no Brasil que abordam a biblioterapia. Algumas delas foram defendidas na área de Ciência da Informação (CI), outras na área de Psicologia. Tratarei agora somente da leitura daquelas defendidas em CI, ṕor sua clara proximidade com a Biblioteconomia, área que para mim é mais confortável de me mover.

Das dissertações encontradas, foi a da autora Mariana Giubertti Guedes, defendida em 2013 na Universidade de Brasília, que primeiro me provocou. Isso por que o título, "A biblioterapia na realidade bibliotecária do Brasil: a mediação da informação", me levou de volta a um evento que participei em 2015 com o professor da Unesp/Marília, Dr. Oswaldo Francisco Almeida Júnior (o OFAJ, para os bibliotecários que me leem ). Neste dia com o OFAJ, tive o gostinho de perceber palavras bakhtinianas saindo reverberando dentro de mim (e me fazendo lembrar das aulas de Filosofia da Linguagem na UFSCar). Mas não somente isso, foi esse o dia que descobri o termo Mediação Implícita da Informação.  Foi escorada, calçada e suportada por esse conceito que continuei minha atuação como bibliotecária de processamento técnico, entendendo que a mediação da informação de maneira implícita seria o melhor que eu poderia fazer para tentar aliviar uma frustração que começava a nascer: não poder trabalhar diretamente com literatura dentro de uma biblioteca universitária.

[Continua...] 

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Aleatórios 1 - Figueiredo, Haines e outros

E então estava eu tentando fazer um recorte e estruturar algumas sessões de biblioterapia quando me ocorreu que separar textos que já foram comentados por outros praticantes parece sempre o caminho mais seguro, mas ficou um porém, aquela dúvida que sempre ecoa: como selecionar textos novos?

Em busca de uma resposta para essa questão, tratei de olhar para o que dizem os bibliotecários a respeito da seleção de obras para as oficinas e rodas de biblioterapia. E qual minha decepção, quando descubro que é quase unanime: todos os textos em que coloquei as mãos desde que comecei a estudar a biblioterapia dizem que o principal papel do bibliotecário é o da seleção de livros, mas nenhum deles diz como identificar textos com potencial terapêutico.

Foi então que arregacei as mangas e entrei "nos livros velhos" de biblioteconomia, aqueles clássicos que minhas professoras do primeiro ano de faculdade sempre citavam e que eu nunca havia lido. E eis que como uma lâmpada num quarto escuro, encontrei dentro de um texto da Nice Figueiredo (Desenvolvimento e Avaliação de Coleções. Rio de Janeiro: Rabiskus, 1993), uma pequena tradução e adaptação de outra obra, da americana Helen Haines, Living with books, que será comentada no próximo post.

Agora quero apenas registrar: senti-me incomodada depois de ler aquele capitulo 1. Um dos motivos por exemplo, foi encontrar, citado por Figueiredo, Shera criticando "o fato de o bibliotecário ter-se afastado da bibliografia dando maior atenção a áreas as quais não estava equipado para atuar, mas que lhe ofereciam maior nível social [...]" (Shera apud Figueiredo, 1993, p. 11). Fiquei demorando ali nas páginas, criando cenários sobre como os bibliotecários perderam a dimensão do seu trabalho educativo e se esconderam atrás de relatórios e programas de computador? Fiquei a imaginar porque uma considerável parcela daqueles que fizeram faculdade comigo se pós-graduaram em Engenharia de Produção? (Eu mesma fiz em linguística, mas isso é assunto para outro dia). 
  
Cabe à biblioterapia identificar mais que o potencial de ser lido em um livro, é de como ser lido, por quem e como isso irá mudar o olhar do leitor sobre sua vida... Relatórios não dão conta dessa complexidade, é preciso se abrir para mais caminhos e se entregar para outros aprendizados.    

[Continua...]

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Clínica Literária

[Este texto fazia parte aba com o mesmo título e entrou no blog em 2016. Estou reformulando a página, mas para não tirar o conteúdo do ar, passei o texto para uma postagem. Se tudo der certo, na aba "clínica literária" terá conteúdo original em alguns meses].

Como eu expliquei nesse post aqui, esta lista é uma tradução livre e adaptada da lista que pode ser encontrada no Tolstoy Therapy.  Ela será usada como teste para o desenvolvimento de método de leitura de livros de ficção para determinar o potencial de um livro em uma sessão de biblioterapia, se esse potencial existir. Esta lista pode ser melhor aproveitada por profissionais que queiram aplicar a biblioterapia com seus pacientes e que precisam de indicações de obras que se relacionem com determinados problemas. A intenção da revisão feita neste blog não é criticar, aprovar ou invalidar a lista, é apenas a busca de um método para a elaboração de novas listas.

Para ajudar a superar um abuso:

O caçador de pipas – khaled Hosseini
Uma criança no inferno – Dave Pelzer
Quarto – Emma Donogue
Mau começo – Lemony Snicket
Eu sei porque o pássaro canta na gaiola – Maya Angelou

Auto-aceitação:

O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
A princesinha – Frances Hodson Burnett
O efeito Rosie -  Graeme Simsion

Lidando com o vício:

Réquiem por um sonho – Hubert Selby Jr.
Um milhão de pedacinhos – James Frey
O homem duplo - Philip K. Dick
Almoço Nu – William S. Burroughs
Trainspotting – Irvine Welsh

Para ser mais ambicioso (mas não num sentido ruim):

Sherlock Holmes – Arthur Conan Doyle (todos)

Para lidar com a ansiedade:

A insustentável leveza do ser -  Milan Kundera
A outra volta do parafuso – Henry James
Guerra e Paz – Tolstói
Em busca do tempo perdido – Marcel Proust
Howards End – E. M. Forster
A elegância do ouriço – Muriel Barbery

Infâncias difíceis:

As cinzas de Angela – Frank Mccourt
Oliver Twist – Charles Dickens
O senhor das moscas – William Golding
O Sr. Pip – Loyd Jones

Definindo certo e errado:
O sol é para todos – Harper Lee
O grande Gatsby – F. Scott Fitzgerald
O mercador de veneza – Willian Shakespeare
Uma certa justiça – P. D. James

Depressão e a tristeza:

As crônicas de Nárnia – C. S. Lewis
Agência n. 1 de mulheres detetives – Alexander Mc Call Smith
Alta fidelidade – Nick Hornby
O ancião que saiu pela janela e desapareceu – Jonas Joansson
O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
O BGA  -Roald Dahl
Harry Potter – J. K. Rowling (todos)
Sidarta – Herman Hesse
O lado bom da vida – Mathew Quick

Para compreender deficiências: 

Um mundo à parte – Jodi Picoult
O estranho caso do cachorro morto  -Mark Haddan
O guardião de memórias – Kim Edwards
Forrest Gump – Winston Groom

Exclusão:

O sol é para todos – Harper Lee
Notas do subsolo -  Fiódor Dostoievsky
As ondas – Virgínia Woolf
Jane Eyre -  Charlotte Bronte
O apanhador no campo de centeio -  J. D. Salinger
1984 – George Orwell
O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
O grande Gatsby
As aventuras de Pi -Yann Martel
A elegância do ouriço – Muriel Barbery
Poemas - Emily Dickinson

Medo de morrer: 

A morte de Ivan Ilytch – Tolstói
A culpa é das Estrelas – John Green
Uma vida interrompida – Alice Sebold
A chuva antes de cair – Jonathan Lee
O fio da vida -  Kate Atinkson
Cem anos de solidão – Gabriel Garcia Márquez
A elegância do ouriço – Muriel Barbery

Crescer... : 

Peter Pan – J. M. Darrie
O apanhador no campo de centeio – J. D. Salinger
As vantagens de ser invisível – Stephen Chosky
Kafka a beira mar – Hakuri Murakami
Harry Potter – todos
As aventuras de Pi – Yann Martel

Perseverança:

A Odisseia -  Homero
O Conde de Monte Cristo – Alexandre Dumas
A casa dos espíritos – Isabel Allende
As aventuras de Pi – Yann Martel
Meio sol amarelo – Chimamanda Ngozi Adiche
O livreiro de Cabul – Asne Seiertad
A cidade do sol – Khaled Hosseini
A resposta – Kathryn Stockett
Quarto -  Emma Donoghue
O menino do pijama listrado – John Boyne
O conto da Aia – Margaret Atwood
Os homens que não amavam as mulheres – Stieg Larson

Corações partidos e outras questões de amor romântico:

Anna Karenina – Tolstói
Orgulho e Preconceito – Jane Austen
A elegância do ouriço – Muriel Burbery
Quem é você, Alasca? – John Green
Uma dobra no tempo -  Madelaine L’Engle

Saudades de casa:

Estrela do mar – Joseph O Connnor
A Guerra dos tronos – George R. R. Martin

           Enfrentando doenças:

A guardiã da minha irmã – Josi Picoult
O Jardim Secreto -  Frances H. Burnet
A culpa é das estrelas – John Green

Para encontrar inspiração:

Siddhartha – Herman Hesse
Um conto de duas cidades – Charles Dickens
O jardim secreto – Fraces Burnett
Um teto todo seu – Viginia Woolf
Cem anos de solidão – Gabriel Garcia Márques
A Elegância do ouriço -  Muriel Barberi

Autoconhecimento:

A Elegância do ouriço -  Muriel Barberi
Grandes Esperanças – Charles Dickens
A insustentável leveza do ser – Milan Kundera
Folhas de relva – Walt Whitman
Livre – Cheryl Strayed

Baixa autoestima:

Os ensaios – Michel de Montaigne
Meditações – Marco Aurélio
Como viver: ou, uma autobiografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta – Sarah Bakewell
Jane Eyre – Charlotte Bronte
A última fugitiva – Tracy Chevalier

Enfrentando perdas:

P.S.: Eu te amo – Cecilia Ahern
O Ano da leitura mágica – Nina Sankovitch
O lado bom da vida – Matthew Quick
Seguir em frente, recomeçar:
Estrela do mar – Joseph O Connor
O Grande Gatsby – F. S. Fitzgerald
P. S.: Eu te amo

TOC:

Se alguma vez – Meg Rosoff
Moby Dick – Herman Melville
Operação perfeito - Rachel Joyce
Morte Súbita – J. K. Rowling
Meditações – Marco Aurélio

Perfeccionismo:

Infância, Adolescência e Juventude – Tolstói
A Redoma de vidro – Sylvia Plath

PTSD e trauma:

As vantagens de ser invisível – Stephen Chobsky
Mrs. Dolloway – Virginia Woolf
Hamlet – Shakespeare
Amada – Toni Morrison

Questões sobre raça:

Sobre a beleza – Zadie Smith
A Resposta – Kathryn Stockett
A cor purpura – Alice Walker

Em busca de significado: 

Guerra e Paz – Tolstói
O sofrimento de uma vida sem sentido – Viktor Frankl
Anna Karenina -  Tolstoi
Zen e a arte da manutenção de motocicletas – Robert M. Pissig
O livro do riso e do esquecimento – Milan Kundera
Siddhartha – Herman Hesse
Momo e o Senhor do tempo – Michael Ende
A Elegância do ouriço -  Muriel Barberi

Precisando de quietude, apreciar a solidão:

Walden, ou a vida nos bosques – Henry David Thoreau
Um teto todo seu – Virgínia Woolf
Na natureza selvagem – John Krakauer

Amor não correspondido:

Primeiro amor – Ivan Turguêniev
O amor nos tempos do cólera – Gabriel Garcia Márquez
O grande Gatsby – F. S. Fitzgerald
O lado bom da vida – Matthew Quick
Rebecca, a mulher inesquecível – Daphne Du Maurier