Como um blog dedicado à leitura de literatura, precisamos pensar em possibilidades de respostas para algumas perguntinhas, como: Qual a relação das nossas vidas com as palavras? Por que alguns de nós fogem da leitura de livros, ou, quando leem, o fazem escondido?
Duas hipóteses, que para mim se complementam: a primeira, um problema na formação dos leitores. Na segunda, uma ideia de preconceito social quanto àqueles que preferem a "solidão" das leituras à outras atividades mais socializantes.
A relação das pessoas com as palavras começa desde a infância, aprendemos a falar, ou seja, aprendemos a nomear coisas, pessoas, emoções e qual a forma correta de dize-las. Depois, aprendemos como representar com sinais gráficos aquilo que dizemos, e como traduzir para a nossa mente aqueles registros que foram cunhados por outros, em síntese, aprendemos a ler e a escrever. Nesse momento preciso do aprendizado, começa nossa relação com os livros.
Na escola, professores e conselhos escolhem quais obras são as mas adequadas à leitura. Nós, alunos, começamos então a navegar nesse mar de palavras que é a literatura.
Resumindo as idéias da pesquisadora Teresa Colomer (não vou ficar citando inúmeras vezes autor/data como uma norma ABNT, todas as citações dessa autora são de um único livro que estará citado no rodapé.), em seu livro Andar entre livros: a leitura literária na escola, podemos dizer que os conteúdos escolares até o Séc. XIX eram elaborados levando em consideração que a criança que tinha acesso à educação pertencia à chamada "elite ilustrada". Este grupo social, segundo a autora, teria o privilégio de ter livros em casa e suas crianças conviviam com adultos habituados à leitura. Dessa forma, cabia à escola apenas transmitir de forma organizada os conhecimentos sobre a literatura clássica e a literatura tradicional, e essa transmissão era feita por meio de manuais.
Ainda embasados nas idéias da autora, no Séc. XX, o perfil do aluno mudou, e do material de ensino também. No primeiro, o acesso ao ensino secundário das classes mais pobres (?) da sociedade trouxe aos professores uma nova realidade de aluno: aquele que, quando chegava em casa, não tinha o mínimo ambiente necessário para o estudo. Alunos que não tinham, de escrivaninhas (um luxo) ao silêncio necessário à concentração. E nesse caso, se nem para o estudo das disciplinas consideradas "sérias" como matemática e ciências, os alunos eram respeitados em seu tempo, imaginemos o que acontecia quando o estudo era um livro literário. Uma outra mudança ocorrida foi no material de ensino: se antes, os alunos da elite recebiam manuais de literatura, agora com a obrigatoriedade de uma biblioteca escolar, eles passaram a ter acesso direto às obras.
Mas algo permaneceu, no ensino de literatura, continuaram a cobrar dos alunos um conhecimento enciclopédico (da literaturas clássica e tradicional) em detrimento da uma competência literária. Decora-se para uma prova as características dos autores parnasianos, realistas, românticos, modernos, e muito pouco se sabe sobre as obras e a função social da literatura no período em que esses clássicos foram escritos. Diferente de somar, subtrair e multiplicar, saberes tão necessários à vida cotidiana e que aprendemos jovenzinhos, sem os quais não conseguiríamos comprar um picolé refrescante no verão, nos esquecemos da literatura tão logo fazemos a prova, e não adquirimos a competência literária necessária para saber de tudo que ela poderia nos proporcionar, se estivéssemos habituados a ler.
Temos aqui então um pequeno panorama dos problemas da formação deu um aluno leitor. Esse aluno, tornar-se-a um adulto não leitor. E eis que surge a uma das perguntas que resultaram na formação desse blog: Como formar um leitor habitual, um leitor que gosta da leitura e, sem estímulos externos, busca um livro para ler? Eis um dos grandes desafios enfrentados pelos educadores brasileiros.
A segunda hipótese do segundo parágrafo, será desenvolvida em outro dia, pois este post já está longo demais e nosso tempo próximo do fim!
A segunda hipótese do segundo parágrafo, será desenvolvida em outro dia, pois este post já está longo demais e nosso tempo próximo do fim!
Um grande abraço e até a próxima sessão!
Fonte:
COLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola. São Paulo: Global, 2007. 207 p. Tradução de Laura Sandroni.